quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Se pararmos para analisar
Cada minuto que perdemos
Só imaginando como seria
Se um dia a gente fizesse
O que queria,
Perceberíamos o quanto somos tolos.

Se pararmos para refletir sobre
Cada abraço que poderíamos ter dado,
Cada vez que não deveríamos ter calado,
Cada vez que sufocamos nosso coração
Por ter medo de parti-lo,
Perceberíamos o quão partido este já ficou.

Se a gente parar
Por um instante,
Parar de pensar nesse medo constante
De seguir em frente,
Quem sabe seríamos mais gente...
Gente que vive, gente que sofre,
gente que ama,
Gente que sente e não se arrepende.

Helena Vicente

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

VIII

   Laira estava só, numa noite solitária. Tomando sopa, que por sinal estava muito quente e rodeada pelos seus gatinhos de estimação. “Me sinto uma senhora”. Pensou sobre si mesma e riu sozinha. “Assim que eu termino então, tomando sopa sozinha? Ao menos tenho meus gatos”. Entrava um vento muito forte pela janela, era início de verão e o clima andava bem oscilante, Laira foi até a janela a fim de fechá-la e acabou descobrindo que era lua cheia. Laira desde muito pequena admirava tudo que brilhava, a lua sempre foi o que mais chamava-lhe a atenção. Quando criança, diferente das outras, preferia a noite só para poder ficar sentada no jardim observando a lua. Quando estava nublado, Laira era só tristeza. Seus pais tentavam acalmá-la “Calma, Lala, amanhã as nuvens se vão”, mas de nada adiantava, Laira ficava emburrada e não queria nem o seu ursinho de pelúcia para dormir.
“Acho que não vou ficar aqui trancada tomando sopa”, trocou seu pijama de listras azuis, pegou sua bolsa amarela, deu boa noite para os três gatos e saiu do apartamento. Na cidade onde Laira morava, tinha uma praça onde os jovens se reuniam, onde os mais velhos se reuniam, onde os cachorros se reuniam, onde todos se reuniam para aproveitar a brisa da noite. Laira chegou e encontrou um banco vazio, era o que ela estava desejando. Sentou-se, fechou os olhos e respirou fundo, isso era como um ritual, antes de observar a lua ela sempre repetia essa sequência. Acreditava que respirar fundo liberava a alma para absorver coisas boas. Abriu seus olhos e olhou pra cima, uma nostalgia tomou conta do seu corpo, lembrou-se do jardim, lembrou-se dos seus pais que agora estão tão distantes dela, lembrou-se das nuvens, lembrou-se da lua que ainda era a mesma para não deixá-la tão só. Pegou o celular para tirar uma foto da lua cheia, mas tudo que obteve foi um ponto branco na tela do aparelho. Riu sozinha, era bom estar consigo mesma.
Helena Vicente

domingo, 30 de outubro de 2016

Solto

Se você pudesse ser alguma daquelas coisas que, quando deitas em teu travesseiro à noite, pensas de uma forma incontrolável, o que serias?
Ou se talvez pudesse apenas viver vinte minutos daquilo que tanto sonhas, qual dos teus grandes sonhos tu escolherias para viver?

Eu, por exemplo, não saberia responder caso essas perguntas fossem direcionadas a mim. Pensamos tanto em tantas coisas, criamos mundos utópicos, adicionamos sentimento só para sentir o que seria, se fosse. Nos imaginamos sendo outros, com outras atitudes, com outros sonhos. Nos imaginamos com outros objetivos e com outras vontades. Como seria?
Inventamos cenas, histórias, palavras, poemas só para fugir um pouco da rotina, do cansaço. Nos libertamos através do pensamento e da criatividade. Nos encantamos com quem nos permite ser o que nós somos, com todos os nossos devaneios que se confundem. Não queremos ouvir o que, de fato, é. Sabemos o que acontece a nossa volta, o que não nos proíbe de inventar uma maneira melhor de perceber o que nos cerca.

Helena Vicente

terça-feira, 25 de outubro de 2016

As borboletas voltaram

Eu não preciso
Colocar o relógio para despertar,
A ansiedade sempre lembra de me acordar,
E por vezes, nem me deixa dormir.
Antes de acontecer
Eu já vivi,
Eu já sofri
E eu já venci.
Antes de acontecer
Eu já sei exatamente o que fazer.
A ansiedade é como um alerta
E eu estou sempre bem desperta,
Pronta até mesmo
Para o que nem precisa.
Pronta para o que talvez nem virá,
Mas eu espero
Com todas as minha borboletas.

Helena Vicente

terça-feira, 4 de outubro de 2016

VII

   Mônica tem feito de tudo para não perder o juízo, mas tem enlouquecido. Tudo que ela tenta evitar, cai sobre ela como uma tempestade desonesta, aquelas que acontecem sem previsão, aquelas que acontecem quando não levamos guarda-chuva, aquelas que muitos denominam como coincidência, mas Mônica chama isso de azar. Quanto mais Mônica foge, quanto mais luta pra seguir o caminho oposto a tudo que ela quer evitar, mais ela se aproxima, mais ela enlouquece. Mônica odeia os acasos, nenhum a protege, como dizem os poemas por aí, só a deixam mais nua do que antes, mais vulnerável. Quando as tempestades chegam, ela nunca sabe como agir. Não sabe se deve se esconder, procurar abrigo, não sabe se deve dar a cara às nuvens. Quando as coincidência acontecem, ela age de forma natural e sempre acaba muito mal, ela sempre vai pra casa pensando o quanto ela odeia momentos inesperados, ela nunca sabe o que fazer, nunca sabe o que dizer, mas nunca se entristeceu por isso. Ela até sorri com o que ela denomina de azar. Às vezes é azar curioso, no qual ela fica fantasiando, imaginando o que poderia ter sido feito. Acha até engraçado porque não vê razão nesses momentos sem previsão, não sabe por que eles acontecem. Talvez, por mais que ela tente evitar, o fato dela pensar tanto pode atrair e atrai. Mônica está sempre querendo uma coincidência agradável (para ela), mas nunca sabe o que dizer. Ela não leva guarda-chuva justamente por sentir a necessidade de se molhar. Ela evita as ruas, mas não completamente. Ela sente uma vontade ardente de sentir o que as coincidências lhe propõem, por mais que nem sempre sejam do jeito que ela planeja, do jeito que ela inconscientemente se prepara, por mais que odeie os acasos. Que seja.
Helena Vicente

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Amanheceu nublado

Amanheceu e eu
Não consegui dormir,
Já não tinha pra quem ligar,
E já não podia ir
Para o quarto dos meus pais,
E já não tinha mais
Para onde ir
E amanheceu,
Eu não tinha o que fazer
Nem o que lembrar,
Eu já não podia mais chorar
E nem agradecer,
Não podia gritar
E nem enlouquecer.
Amanheceu
E eu desarrumei o meu quarto,
Eu desliguei a televisão
Porque já não tinha mais o que ver,
Já não tinha mais o que dizer,
Ninguém liga pra emoção.
Amanheceu
E eu já não tinha pra onde ir,
Já não tinha mais nada para sentir
Nem pra quem mentir
Que estava bem.
Amanheceu.

Helena Vicente

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Mesmo simples, não deixa de ser fato

Carrego muitas coisas dentro de mim
E a maioria delas
São lembranças,
Coisas que não me desfaço
E por opção.
Eu sou apegada demais
A tudo que já senti, um dia
Pra jogar no lixo assim
Ou pra fingir que não.
Eu não preciso fingir
E me orgulho disso,
Me orgulho de saber
Que tudo o que sou hoje
Se dá por todas as coisas que já vivi
E que já senti,
E que guardei aqui dentro
Pra me confortar, se eu precisar
Ou só pra ficar guardadinho mesmo
Dentro de mim,
Um lugar bonito e seguro
Para as coisas boas da vida
Morarem.

Helena Vicente

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Falhei

Falhei,
e antes que eu tivesse feito, de fato,
já havia falhado
só por pensar.

Falhei,
e nem quis ouvir a razão,
e ela estava gritando dentro de mim.
Falhei e assumo, fim.

Falhei,
mesmo com todas as vozes
que eu ouvia,
e que, por ora, me aturdia,
eu falhei sozinha.

Falhei,
e não quis pedir ajuda,
não quis ouvir o que já sabia.
Eu sou dona dos meus próprios erros.

Falhei,
mas quem não falha?
Já ouvi promessas demais,
de eternos falhantes.

Falhei,
eu falhei sim,
e não pedi conselho.
Falhei enquanto você fugia.

Helena Vicente

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Fostes

Eu nunca te beijei,
Eu sempre apreciei
A tua boca,
Quente e pronta,
Para me dar o que eu queria
E o que tu podia
Naquele instante.
Sempre degustei
O beijo e o toque,
O gosto ardente,
E sentia, lá no fundo,
Que já existia amor
Dentro da gente.
Fostes o equívoco mais lindo,
A estrada
Do meu melhor caminho,
O nascimento de um caos,
A minha poesia preferida
Fostes tu.
Fostes a melhor companhia
Nos dias de chuva,
Nos dias em que eu não sabia
O que queria.
Fostes o melhor abrigo
No meio de tudo,
O mais seguro.
De todas as palavras
Fostes o silêncio,
O que cabia.
O que transborda
E irradia.
Fostes tu.

Helena Vicente

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Existem poemas demais

Da medo, não é?
Ir pro outro lado da porta
Quando o dia está cinza
E quase acabando...
Da medo
De enfrentar o dia
Quando está ensolarado
E bem no começo.
Da medo
De fechar a porta
E enfrentar a noite
Fria, escura e cheia de pensamentos.
Da medo das pessoas
Que jamais te encorajam,
Apenas esperam para assistir tua queda.
Da medo das pessoas
Que não se preocupam mais
Com o afeto,
Preferem sempre
Manter uma aparência
Vazia e inútil
De que não sentem nada.
Não me preocupo
Em fingir coisa alguma,
Eu sinto, e sinto muito
Pela forma como tudo é
Neste mundo.
Não me preocupo
Em fingir não sentir nada,
Eu sinto, e sinto muito
Por todos que mentem,
Que falam exacerbadamente,
Que lutam pra fugir
Do que já foram.
Eu não estou triste,
Estou com poemas demais.

Helena Vicente

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Aleatório como o clima da estação

Assim que começa a chover
Corro para um papel,
Para o computador
Ou para as notas do meu celular.
Eu preciso escrever enquanto chove
Porque sinto que a chuva
Me enche de pensamentos
Que preciso colocar em ordem,
Aqui.
Assim como as nuvens precisam desaguar,
Eu preciso vomitar
Tudo que há dentro de mim.
E sempre há alguma coisa
Que pode se tornar poesia,
Mesmo que seja barata,
De esquina e guardanapo,
De cigarros apagados
Ou de bebidas esquecidas na mesa,
Quentes e enjoativas.
Aqui chove muito no mês de julho
E as pessoas não saem mais de casa
E os bares já não estão mais cheios,
Como eram.
E a solidão prolifera
Nas ruas da cidade.
E cada vez chove mais forte,
E o som aumenta no telhado.
Eu fico fascinada
Quando começa o barulho forte
Dos raios.
Caem muitos raios onde moro,
É perfeito para me encher de alguma coisa.
A chuva é como um sentimento,
E eu sinto como se fosse mais do que é.
Eu sempre escrevo sobre a chuva,
Eu sempre esqueço de levar proteção,
Eu sempre me molho sozinha,
E eu nunca dou explicação.

Helena Vicente

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Ponto de vista

Percebes as nuvens que cobrem meus olhos,
Que escurecem minha alma,
Que escondem o meu sol?

Não há nuvens sobre teus olhos
E tua alma escura
É resultado de outro clima.

Não vês a falta de luz
Em todo esse lugar?
Não escutas o barulho
Que me ensurdece?

A luz se faz entrar pelas janelas
E aqui nesse lugar,
O único barulho que faz-se notar
É o som dos pássaros
A cantarolar.

Não vês a fumaça
Que têm naquelas árvores?
Estão a queimar!

A fumaça foi o vento que trouxe
Junto com a poeira de algum outro lugar.
Assim como o vento trouxe,
O vento leva,
Não há com o que se preocupar.

Mas as nuvens, quem foi que trouxe?

Não há nuvens aqui fora,
Não há escuridão hoje em dia.
A poeira que te cega,
A fumaça que te circula,
É permissão somente tua.


Helena Vicente

quarta-feira, 22 de junho de 2016

VI

  Camila não quer se preocupar com o amor, não quer falar sobre isso. Quando lhe questionam:
- E o teu coração, grande garota?
Camila cala, deixa-os falando aos ventos.
Quando pressionada, sai batendo todas as portas que pode da sala até seu quarto.
- Por que se interessam tanto?
Acredita que as pessoas só se interessam por coisas vazias. “Elas nem sabem o que é o amor, não sabem e não saberão”, pensa.
Para ela, não é amor todo o mel percebido nos filmes de romances baratos até pra quem paga em um cinema.  Para ela, não é amor selar um contrato de fidelidade sob os olhos de um padre. Ela nem sequer tem um conceito definido, mas esse é o seu jogo, é assim que ela mantém sua mente aberta. Ela não tem conceito definido para nada, sabe que tudo é passível de mudanças grandes ou pequenas, de mudanças que fazem toda a diferença. Não assume uma postura, não declara suas vontades que mudam cada dia que ela acorda. Mudam quando ela acorda em sua cama, mudam quando ela acorda em outra cama, com alguém. Mudam quando ela se olha no espelho e percebe que no fundo ela só quer liberdade. Quer liberdade até dela mesma, quer liberdade de todos os pensamentos. Camila observa que ninguém sabe sobre o amor, nem mesmo quem escreve esse texto no fim da noite.
Helena Vicente

terça-feira, 7 de junho de 2016

Pulsões

É mais morte do que vida
As pulsões que te conduzem
É o amor que te atrapalha
A conduzir tua própria mente
É a mentira que te circunda
Que não dá espaço para a liberdade
É a liberdade
Que tanto do espaço tu absorveu
É na absorção de todos os problemas
Que de fato, te assolam
São as palavras que nunca foram ditas
Pelo medo do inevitável
É o inevitável que te cansa
Te cansa evitar o que não pode
Te incomoda demonstrar tua exaustão
Te surpreende a indiferença nítida
E te lança amargura todos os olhares em volta
Assuma tua dor
E fuja para qualquer lugar
Que te proporcione paz ao respirar
Que não te cobre fingimento
Que não te cubra de solidão.


Helena Vicente

terça-feira, 10 de maio de 2016

Depois da despedida

Depois da despedida
O que fica
É uma saudade ardida,
Um vazio que sufoca
E sacrifica
Dia após dia.
Depois da despedida
Nasce uma vontade
Irracional
De querer sentir de novo
Aquilo que nos livra
De todo o mal,
De querer sentir a paz
Do toque,
De querer sentir o amor
Expresso pelos olhos
Olhando pra frente,
Querendo perpetuar
O que se sente
Para ter um futuro próximo
Cheio de poesia.
Depois da despedida
Ficam as lembranças,
Os sorrisos aleatórios
Durante o dia.
Ninguém entende nada,
Mas depois da despedida
Nascem sonhos
De não ter que se despedir
Nunca mais.

Helena Vicente

segunda-feira, 25 de abril de 2016

De mulher para mulher

Linda moça,
Não permitas
Que ele lhe diga
O que tu deves fazer.
Não permitas
Que ele invada
A tua vida
Sem fazer por merecer.
Não deixes
Que ele te aprisione
Numa cadeia
De pressões.
Não faça por ele,
Faça por suas razões.
Não deixes
Ele controlar
Os teus sonhos,
Ou decidir
Qual dia
Tu terás paz,
A paz deve ser mantida
Todos os dias.
Não permitas
Que ele suje
Os teus lençóis,
Que faça da tua casa
Um lugar para julgar.
Não deixes
Ele confundir
A tua consciência,
Que manipule
A tua inocência.
Não deixes
Que ele te manipule,
E que faça tu te sentires mal
Pelos erros
Que ele não consegue admitir.
Não deixes
Que os gritos da tua solidão
Sejam mais altos
Que os gritos dele.
Não te prendas,
Minha menina,
Só por medo de ficar sozinha.
O mundo é grande demais
Para desperdiçar
As flores do nosso jardim
Com alguém
Que não vê amor
Nas cores,
Nas palavras
E no olhar,
Em você
E
Em mim.

Helena Vicente

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Conexão de paz

Será que em mim
Vês poema?
Será que há
Algo em mim
Que possa
Te inspirar?
Será que
O meu cabelo bagunçado
Te faz suspirar?
Por algum motivo,
Será que os meus desvios
Te mostram algum caminho?
Será que nos meus anseios
Alguma paz te estabelece?
Será que há
Em ti
Algo que tenha aprendido
Olhando para os meus olhos?
Será que tu sabes filtrar
A minha desordem,
E dela consegues
Fazer canção?
Será que há
Algo em mim
Capaz de te fazer ficar?
Será que há
Algo em mim
Capaz de te fazer
Querer parar,
Por um momento,
De querer fugir de ti?

Helena Vicente

sábado, 9 de abril de 2016

Fala pra ela

Quando ela disse tanto faz
Ela quis dizer que jamais
Vai voltar aqui.
Dona de todas as razões
E as certezas desse universo,
Ela é tão ela
E o que sobra é só o resto.
Dona de uma energia original
Que acaba me fazendo muito mal
Quando a vejo em outros braços,
Compartilhando outros laços,
Dando um nó em mim.
Ela nem sabe,
Mas ainda dói,
E como dói,
Ela não faz a menor ideia,
Sendo tão ela
Esqueceu-se de mim.
Quando a noite surge
É dela que eu lembro,
Bebericando uma cerveja
E lembrando os lábios
Tão macios
Que eu nunca mais
Voltarei a beijar,
Porque ela é tão ela,
Porque ela não precisa de ninguém
E quando ela disse tanto faz
Ela quis dizer que jamais
Vai voltar,
E ela nem deixou eu explicar
Que sem ela eu não sou.
Ela nem deixou eu explicar
Que mesmo sem voltar
Ela será meu eterno grande amor.

Helena Vicente

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Ansiedade

Dependendo do dia
Eu não consigo
Controlar os meus anseios,
Eu preciso, inconscientemente
De alguém
Que acalme a minha pressa,
Que segure essa vontade
Que eu tenho
De sair correndo
De mim mesma
E do desconhecido,
E sinto
Como se fosse uma prisão
Esse corpo que habito.
Quando me sinto assim,
Acelerada,
Quando meus pensamentos
São mais rápidos que os segundos
E os milésimos,
Quando nem eu mesma
Consigo acalmar
A minha mente
Em colapso,
Eu me sinto
Descendo um eterno morro
Por muitos quilômetros por hora.
O frio eterno na barriga
Que fica pra me lembrar,
Pra me preocupar
Com tudo que ainda há por vir,
Mesmo que esteja longe
É assim que me sinto,
Fugindo de um furacão
Sempre que abro os olhos.

Helena Vicente

terça-feira, 5 de abril de 2016

Acabaram-se as promessas

Para e me espera.
Deixa-me terminar só mais este verso,
Não anda tão depressa,
Escuta-me enquanto te confesso
Que as coisas são mais bonitas no papel.
Acabaram-se as promessas
E as ilusões poéticas,
Acabaram-se as ilusões
De todas as histórias patéticas.
Acabaram-se as promessas,
Desfez-se a miséria
Da esperança sem retorno,
Da noite sem fim
Aqui dentro de mim,
Acabaram-se até mesmo as palavras,
Mas me espera mais um pouco
Só deixa-me terminar mais este verso
Dizendo que se acabaram as promessas

E eu já esqueci como se chora.


Helena Vicente

segunda-feira, 28 de março de 2016

Intoxicação emocional

Tudo fica estranho
Quando a nossa mente
Está estranha.
Quando,
Das profundezas do nosso inconsciente,
Submergem pequenos destroços
Que jamais foram aniquilados,
Que sempre estiveram ali
Atrapalhando nossos pensamentos,
Escondido entre um e outro,
Causando desconforto.
Quando percebemos
A rachadura que jamais fora fechada,
Quando descobrimos a causa
E isso se torna consciente,
Temos a chance de destruir
E tapar possíveis buracos
Que permitem que a luz saía
E não permaneça,
Mas temos somente uma chance
Antes que o inconsciente
Engula novamente
Aquilo que nos faz mal,
E proporciona então
Uma má digestão
Por muito tempo,
Uma intoxicação emocional.

Helena Vicente

terça-feira, 8 de março de 2016

Se é pra falar dos teus olhos

Mesmo que eu tivesse
Todas as cores do mundo
Em forma de tinta
E tentasse, num quadro,
Pintar os teus olhos
Eu jamais acertaria
O tom,
Mesmo te olhando
E não me cansando de te ver.
O verde dos teus olhos
É único e inigualável.
Eu não me canso de mergulhar
Nos teus olhos intensos
Que decifram-me por inteira
E que me fazem tua
Cada vez que me olhas.
É nos teus olhos
Que eu encontro a minha paz
E a minha serenidade,
É nos teus olhos
Que encontro o amor
Que me acolhe
De todo pesadelo ruim.

Helena Vicente

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Cada ser, um poema

Será que todo mundo
Enxerga o que eu enxergo?
E se enxergam,
O que pensam?

Será que todo mundo
Pensa o que eu penso?
E se pensam,
Como lidam?

Será que todo mundo
Tenta como eu tento?
E se tentam,
Como não cansam?

Será que todo mundo
Cansa como eu canso?
E se cansam,
O que escrevem?

Helena Vicente

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

V

  Mariana gostava muito de arte, uma vez por semana tirava um tempo para ir à exposições de pinturas que tinha em sua cidade, a única coisa que ela achava agradável naquele lugar. Uma vez Mariana encontrou um desenho de uma garota que chamou muito sua atenção, encontrou-o perdido num dos sites que ela visitava habitualmente assinado vagamente com o primeiro nome que só dava uma pista de ser uma menina quem desenhara. Poucas coisas chamavam a atenção de Mariana, ela acabou salvando o desenho e olhava para ele todo dia, tinha achado fascinante, fascinante demais. Retratava uma garota com formas escuras, retratava também um certo movimento aquele desenho, como se a garota estivesse caminhando ao encontro da luz. Mariana pensava ser uma garota de pouco sentir, entretanto na arte sentia-se mais próxima do seu interior e compreendia melhor os sentimentos que abrigava dentro de si. Mariana continuava a frequentar as exposições de arte, mas com o tempo tudo ficou repetitivo e tedioso. O que antes servia como consolo para sua alma, passou a ser um peso. Os expositores começaram a disputar entre eles, havia sempre conversas fúteis sobre quem era melhor e por que. Mariana não via arte em ambientes pesados. O seu conceito de arte impedia que ela continuasse ali, ouvindo discussões desnecessárias. "Será que eles não sabem que a arte, para ser linda, deve nascer por necessidade da própria alma?" O que ela via eram pessoas egocêntricas e calculistas, implorando pelo topo, implorando por um troféu inexistente para aumentar suas autoestimas decadentes. Mariana estava se poluindo, fugiu dalí. Imprimiu o desenho da garota desconhecida. Colou na parede do seu quarto e observava-o antes de dormir. No início até tinha curiosidade sobre a dona daquela obra que havia mexido tanto com ela, mas prefiria a expectativa ao desapontamento. A dona do desenho podia ser qualquer garota que ela criasse em sua mente, podia até ser parecida com Mariana. Podia ter cabelos longos e ser uma menina solitária. Podia ser uma garota repleta de amigos que não a compreendiam e, como Mariana, era através da arte que entendia a confusão dentro da sua mente. Mariana não fazia questão de conhecê-la, sabia que o que sua mente criasse seria melhor do que qualquer outra realidade. Ela analisava o desenho e dormia em paz, sonhava ser a menina caminhando ao encontro da luz.
Helena Vicente

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

És livre

És livre
Como um pássaro
Que aprende a voar
E decide seguir seus instintos.
És livre
Para voar
Em busca da tua paz de espírito.
És livre
Para viver seu "eu"
E seguir o seu caminho.
És livre
Para ser você mesmo
E ter novas experiências
Das quais necessita.
És livre
Para ver com clareza
O que é verdadeiro e simples.
És livre
Como um pássaro
Que voa sem rumo.
És livre
Para sempre voltar pro teu ninho
Que sou eu.
És livre
Para perceber
Que no teu ninho
És livre.

Helena Vicente

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

IV

Os olhinhos de Melissa ficam lindos quando chora, ficam vermelhos e inquietos expressando sua vulnerabilidade. Tão fácil ver Melissa sofrer. Ela percebe cada detalhe e chora, ela tem uma delicadeza rara, consegue sentir o que ninguém mais sente. Ela cuida dos seus amigos e dos seus cachorros, ela passa por todas as fases junto com seus irmãos e sofre. Tem uma percepção incrível das coisas, nada passa despercebido e então chora. Ela esconde seus medos tão fundo que sente no mais íntimo da sua alma a dor que eles lhe causam. Ela queria um abraço que a confortasse, queria poder chorar sem peso nenhum no abraço de quem a ama, mas ao mesmo tempo gostaria que ninguém soubesse dos seus fracassos, entretanto Melissa sabe que todo mundo precisa de alguém. Ela faz tudo sempre igual e ninguém sabe o cansaço que isso lhe causa, ninguém sabe sobre o cansaço de Melissa e sobre o quanto ela é infeliz com todas as responsabilidades que ela nem mesmo quer. Os olhinhos de Melissa ficam lindos quando chora, ela implora lá no fundo que alguém a salve dela mesma. Ninguém consegue salvá-la, nem mesmo seus pais que tanto tentam. Ela é isso, ela se tornou assim e agora já é tarde. Todos os dias ela é isso, chega da escola e se tranca no seu quarto, no seu mundo onde pode chorar em paz sem que alguém lhe questione, mas todo mundo sabe que Melissa tem chorado muito. Os olhinhos de Melissa nunca mentem.
Helena Vicente

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

24h

Eu ainda tenho
A minha dor de cabeça
Todos os dias,
Mas eu também tenho
A chuva
Que chove
Pra me acalmar.
Ainda, depois disso,
Eu tenho o sol
Que nasce
Pra me lembrar
Que ainda é muito cedo
Pra pensar
Que nada é justo,
É muito cedo
Pra pensar
E eu ainda tenho
A noite
Que me liberta,
A lua
Que me desperta
De todo pesadelo ruim.
E enquanto for assim
Eu tenho tudo
Porque é só acreditar
Que o paraíso é logo ali
Ou é só não acreditar
Em absolutamente nada.
Cada um sabe
Que doce ilusão deve alimentar
Cada um sabe
Qual solidão consegue suportar.

Helena Vicente

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

III

  Hoje o dia está ruim para todo mundo, para Luana não está sendo muito diferente. É um dia chuvoso de novembro, as pessoas estão distantes uma das outras e Luana está submersa em seus pensamentos descontrolados. Pensa muito e pensa mais sobre tudo que ainda há pela frente. Sente o anseio pelo futuro tremer a sua barriga e lhe causar arrepios. A ansiedade é um sentimento predominante em Luana. Nesses dias chuvosos tudo o que ela faz é pensar nas coisas que já aconteceram. A melancolia está em todo lugar, a cada pingo de chuva aumenta ainda mais. Não se sente sozinha, apenas sente a solidão nas pessoas que a cerca. Esperando o sinal para a primeira aula, ela fica ouvindo músicas nostálgicas de algum final de semana que passou, se perde nela mesma, fecha os olhos e dança esquecendo-se das pessoas ao redor. Ela nem liga. Ninguém sabe o que ela está sentindo e, se soubessem, morreriam de inveja. O dia está ruim pra todo mundo, mas basta lembrar-se dos bons sentimentos que o brilho volta e a nostalgia a afoga num mar inteiro de sensações indescritíveis. Ela repete a mesma música várias vezes e não sente interesse na conversa vazia dos outros. Ela quer se afundar nela mesma e aproveitar tudo que ainda tem.
Helena Vicente