sábado, 13 de abril de 2024

Sociedade limitada

uma sociedade
em uma empresa 
que faliu 

desfaz 

cada um com 
os seus negócios 

a vida é isso. 

- Helena Vicente 

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Paradoxo

Até viver o tempo todo anestesiado, dói. 
Sentir dói, não sentir nada, também. 
Os extremos, aqueles que buscamos
por extinguir.
Os extremos comunicam sempre, 
mas não é sempre que estamos preparados
para ouvir o que eles querem dizer. 
Tem vezes que sabemos exatamente o que significa, 
mas e agora? Fazer o que com isso?
Mentimos pra nós mesmos o tempo inteiro, 
é claro que a gente quer se proteger, 
mas chega um momento em que nossas mentiras 
já não enganam mais,
o que idealizamos, deixa de ser, 
e dói, viu?
Perder um ideal é como perder alguém, 
perder e deixar de idealizar, 
perder e não conseguir mais idealizar, 
porque, de novo, as mentiras já não enganam mais, 
a gente sabe,
e saber dói, 
saber dói mais do que não saber. 
Como sempre: vivendo em paradoxos. 


Helena Vicente

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Enquanto houver palavras

Ainda escrevo.
Escrevo pra tirar do meu peito 
O que nem sempre consigo falar em voz alta.
Escrevo pra organizar os pensamentos 
Que, por muitas vezes, me deixam tonta.
Escrevo sobre novos finais,
De diferentes começos.
Escrevo sobre o que foi,
Sobre o que será, 
Escrever me ajuda a esperar 
O que do futuro virá.
Escrevo pra me preparar,
Escrevo pra desabafar,
Escrevo pra visualizar 
O que tem se passado no meu mundo interno.
Sim, ainda escrevo. 
Enquanto houver palavras, ainda as organizarei em texto. 
Escrevo sobre mim, 
Sobre meu contexto,
Escrevo sobre quem fui,
Escrevo sobre recomeços.


Helena Vicente 


sábado, 21 de maio de 2022

Puerpério: nasce dois

os meus olhos marejados 
de encontro aos teus olhos atentos 
me indicam que não preciso fazer muito
basta estar presente e ser teu acalento

são tantos pensamentos e tantos medos 
é realmente o que dizem sobre o coração bater fora do corpo 
todos os clichês são tão reais 
e as experiências tão iguais 

desde que te vi eu já não durmo
os meus pensamentos se atropelam 
já não consigo decidir tão rápido 
nem tudo é tão prático 
mas de novo os teus olhos me indicam a direção 

é claro que tenho feito o meu melhor 
mas é tão precioso o que tenho agora 
é sobre vida, é sobre um amor potente 
sobre o que não se pode controlar 
nem prever como será 
um dia depois do outro

os meus olhos marejados 
embaçados de tanto sentimento
quando observo tuas feições 
tudo se torna nítido de novo

eu não faria nada diferente 
é como ter encontrado um tesouro 
que estava escondido
dando tudo de mim, eu não preciso de nada
só preciso dos teus olhos atentos 
me indicando o caminho

Helena Vicente 

domingo, 19 de dezembro de 2021

Falta

Não se sabe ao certo 
Não se sabe o tamanho 
Não se sabe o porquê
Mas se sabe que falta 

Falta 
Não se sabe o que 
Não se sabe desde quando 
Não se sabe o motivo 
Mas se sabe que falta 

Falta 
Não se sabe até quando 
Não se sabe até quanto 
Essa falta pode afetar 
Mas se sabe que falta 

Falta 
Não se sabe o que fazer 
Não se sabe como suprir 
Não se sabe como resolver 
Mas se sabe que 
Falta 

Helena Vicente 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

O afeto do contato

com todas as tuas marcas,
com todos os teus apelos,
com tudo que te cerca 
e te causa certo medo 

com tudo que vive 
com tudo que cresce 
com tudo que morre 
com tudo que deixas ir 

com todas as transformações,
com todas as verdades absolutas,
verdades absurdas e até cruéis,
com tudo que tens dentro de ti 
apenas és o que és

rodeado de anseios,
de palavras cheias que não se esvaziam,
de promessas grandes que irradiam 
de uma esperança que mantém tudo no lugar 

qual é o nosso lugar? 
um espaço indefinível,
onde todos os dias se torna quase invisível 
se a gente não puder mostrar pra que viemos

queira para o bem, queira para o mal
és o que és,
e não há como fazer igual,

único, com teu processo, 
preenchendo espaços que ainda não vê,
escrevendo linhas que ainda não lê, 
esperando alguém passar e te dizer: 
eu consigo te entender, eu posso te acolher,
és puro em tua singularidade,
perfeito em tua individualidade,
só te tiram o que não és

Helena Vicente 

sábado, 3 de julho de 2021

Silêncio

Em silêncio eu te observo,
Eu te escuto,
E te interpreto,
E quase estremeço nesse deserto 
De não poder falar o que sinto.
Em silêncio te escolho,
Te amparo,
E quase suplico 
Por um pouco mais de sentimento.
Em silêncio rio das tuas dúvidas,
Imagino as tuas memórias,
E repreendo os teus medos,
Mas aqui, ainda em silêncio,
Eu lamento 
Por tudo que nós podíamos ter sido,
Se não fosse o silêncio 
Que tivesse nos corrompido.

Helena Vicente

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Atemporal

O sentimento é atemporal
E nada do que eu diga 
Poderá ficar aqui,
Ali 
Ou acolá 
Tudo que temos 
Se dissipa e se mistura nas partículas do espaço 
E tudo está em todo lugar 
Em todo momento 
E nada fica só 
Nem nada vem de encontro 
Porque tudo está em tudo 
Como se pudéssemos ver lá de cima 
Tudo tão pequeno e misturado 
Se chocando em todas as outras coisas 
Que imaginávamos que haviam se perdido 
No fim é uma ironia viver correndo atrás 
Imaginando uma ruptura num tempo que não há 
Num tempo determinado como se fosse matéria 
Palpável 
Pautável 
Nada além do invisível 
Uma ilusão criada pra manter concentrada 
A energia da natureza sobre todas as coisas 

Helena Vicente