sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Binóculo

Cansei de romantizar fracasso,
foi bom te ver,
um beijo 
e um abraço.
Daqui pra trás 
já não há o que ser,
daqui pra lá 
já tá sobrando 
o que viver.
O futuro tem sido um ímã,
me puxando e me livrando 
da solidão,
tem sido um remédio,
um estímulo, 
uma injeção de adrenalina 
que não me permite parar
aqui em cima 
só pra esperar ter algo pra dizer 

Helena Vicente

terça-feira, 28 de abril de 2020

Objetivo comum

Somos aptos a explicar pessoas,
modificar o que foi dito
pra assim ser melhor engolido
e não machucar tanto por dentro.

Somos patéticos tentando corrigir pessoas,
modificar as atitudes 
pra que pareça mais belo, 
ou menos feio.

Somos humanos incorretos, 
indo ao encontro de outros humanos incorretos,
apontando falhas como se fosse espelho,
olhando pros lados, mas nunca pra dentro.

Somos desonestos com nós mesmos
mostrando apenas o que incomoda menos
pra evitar encontros com a sombra, 
que de qualquer forma sempre nos acompanha.

Somos inocentes, 
acreditamos que o outro nos compreende,
quando de fato o outro mal sabe o que sente
e deposita na gente a expectativa de uma solução.

Não somos solucionadores de problemas, 
nem consertadores de poemas, 
as coisas são como são, 
não como devem ser.

Não somos construtores de um lema
tampouco seguimos alguma regra,
nós fazemos o que dá na telha,
justamente por isso que tanto quebra.

Helena Vicente

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Buscando sentido interno

É claro que eu não poderia
simplesmente seguir essa linha
como se não houvesse construído
realidades maiores.
Tento lidar com isso,
com as cenas quase alucinógenas,
com as experiências fantasmagóricas,
como se tudo realmente pudesse acontecer
sem ferir,
sem doer,
mas o que vem depois quase nunca compensa,
é quase como uma febre intensa
querer o que não podemos conseguir,
interagir com o que não nos pode responder.
É objeto de estudo essa coragem,
essa ilusão em que nos deixamos levar
só pra ver o que acontece
fingindo não ter medo do que vem depois,
só fingindo, porque pensar nisso quase assusta
ficar sem rumo arrepia
e não é bom o sentimento do não saber.
Eu só quero me reconhecer
sem precisar de estímulos externos,
eu quero me ouvir e encontrar minha essência
de novo
sem precisar buscar respostas nos outros.

Helena Vicente



quinta-feira, 12 de março de 2020

Mulher part.01

Às vezes nos sentimos heroínas
querendo salvar alguém 
de se perder em si mesmo,
de se camuflar à pintura do seu quarto,
de adoecer fundo em seu colchão.
Não somos heroínas
e carregar essa ilusão nos consome
tampouco pudemos salvar à nós mesmas,
há muito tempo quebradas,
mas que de alguma forma nos recuperamos,
sozinhas,
em meio a pressão do entorno 
e a solidão do contorno,
sozinhas,
com nós mesmas.
O estigma da mulher, heroína,
a mulher que segura,
a mulher que não deixa adoecer,
a mulher que não deixa a relação morrer,
ela, a mulher, sozinha.
Que consigamos nos livrar dessa sentença,
pra perceber que nós não devemos nos submeter
à estigmas prontos, 
rótulos tóxicos que ainda ditam
nossa maneira de agir.
Que cada um possa salvar a si mesmo.

Helena Vicente

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Desconforto

nadando em direção ao céu
tentando não submergir,
tentando não escurecer a visão,
tentando não perder de vista
o motivo pelo qual
tudo se iniciou

é difícil manter o foco
quando tudo faz desistir,
é difícil enxergar além 
com a visão turva,
é difícil acreditar que é possível
quando todos os caminhos indicam
que não há lugar para ir

pode ser normal se sentir perdido,
mas não é normal tanta exaustão,
o tempo se tornou extenso demais
os sonhos grandes demais,
fazendo com que eu tome ciência
da minha pequenez 

tudo que olho está acima
parecendo cada vez mais inalcançável

H.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Poeira de estrelas

Que eu me perca em meus devaneios,
sonhos tolos
ainda de menina.
Quero me libertar
dessa rotina
e dar de cara com mil novas possibilidades
de ser
o que eu bem entender
e explodir em potencial
ferindo sim, quem não acreditou,
mas estando longe o suficiente
pra não me importar.
'Deixa pra lá
a gente sabe que não adianta
esse papo de agora não dá',
nos aconchegamos em constelação de ilusão,
é que tava tão bom,
mas não podemos ficar,
deixa pra lá
e deixe-me ir
já me sinto suficientemente frustrada,
quero poder rir
sem estar presa, compenetrada,
idealizando um futuro utópico.
Odeio despedidas
mas, ironicamente,
eu me despeço todo dia.

H.