segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Por onde quero passar

Nada me importa
Se acham graça,
Se choram ou se bocejam.
Eu to nem aí,
Quero mais é flutuar pelos meus ares
Os ares que me fazem bem
Sem medo de olhar pra baixo
E não sinto vontade de abaixar o olhar
Porque lá no final tudo é feio
Tudo é desonesto.
Tudo é tédio.
Eu to nas nuvens
E não quero sair daqui.
Nada me importa se reclamarem,
Se acharem feio ou se acharem legal.
Eu to nem aí
Eu quero viver minha vida
No meu canto e na minha paz.
Nada me importa os argumentos,
As falas dos inteligentes e a educação dos bonitinhos.
O que importa é onde estou e onde vou chegar,
Porque estou sozinha e ninguém pode fazer por mim.
Ninguém pode me ajudar ou me fazer sobreviver.


                                                                             Helena Vicente

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Os pontos

Se meu poema acabou na vírgula
Não foi por tua causa
Meu amor.
Foi porque decidi mudar os pontos,
Trocar as memórias
E andar nos trilhos.
Sim, é isso que o amor faz.
Nos deixa sem palavras
Ou, por acaso nos deixa cheios dela.
E quando ficamos cheios
Não significa poesia
Nem música,
Significa confusão.
Confusão tão linda
Mas tão sem fundamento.
Ou é normal rir de tudo e achar amor onde tem guerra?
Nada é normal, querido.
Mas meu poema acabou na vírgula
Porque não quero que termine no ponto final.
Não mesmo.
Sei que depois da vírgula tem mais coisas por vir

E é isso que me faz escrever.

                                                                                          Helena Vicente

domingo, 3 de novembro de 2013

aquelas mesmas palavras

Tão vulgar e sozinha
não queria estar ali...
sei.
Ela fazia poemas em guardanapos
e os perdia antes de chegar em casa.
Tão vulgar ela era
que perdeu o seu sorriso
que cativava.
Hoje ela só é o que restou
das noites infinitas.
Mas porque ela ainda vive lá?
Não quer correr
porque vai tropeçar
e se machucar tão mais...
sei.
Ela só tem medo.
Ela é tão vulgar
que não respeita as estradas.
Bebe e vomita
no pé da calçada
e não se preocupa dos risos altos.
Ela é tão vulgar.
                                                                                Helena Vicente

sábado, 26 de outubro de 2013

Pessoas em mim

 As pessoas tem me enjoado, são tão previsíveis que enjoam. Enjoam tanto que me dão náuseas, quase vomito na frente das palavras decoradas de todas elas. Mas do jeito que elas me enjoam, me cativam, não pelo que são, mas pelo que tem a mostrar além de todas as coisas aparentes. Sei que guardam sentimentos valiosos sem se perder nos dias. De resto tudo me repugna. De resto tudo me dá nojo.
Gosto de descobri-las, odeio a forma como elas agridem a si mesmo sendo o que não são, isso me irrita. Odeio teatros do ser. Gosto de entender, de procurar e de descobrir o que é o mais verdadeiro dentro de cada uma.
 Todo mundo leva segredos dentro de si, todo mundo tem uma grande coisa para mostrar e isso é o que me atrai. De resto tudo me entristece. De resto tudo me machuca.
 Vejo gente tão valiosa se perdendo no tempo, vejo gente se desperdiçando todos os dias, que destrói o que tem de melhor para cativar aquilo que julga bom, e não é, nunca é bom quando temos que simular cenas para agradar e eu descobri isso tão tarde.

                                                                          Helena Vicente
...

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O meu eu, teu.

Te esperando
cá estou.
Padecendo na esperança,
no inferno de mim.
Por anos vaguei
sem um caminho certo.
Me perdi por ruas,
mas me reconheci nas cores fortes.
Eu já não posso sumir de mim,
mas posso me reinventar
se isso for preciso pra te trazer de volta.
De volta pro teu lar
que desde sempre foi teu.
Aqui no balanço do meu coração
onde te abrigo
desde que te vi.
Se precisar
eu paro de cantar versos simples,
se isso te incomoda.
Posso parar de folhear os livros
se o som te irrita.
Eu não quero buscar outras coisas
se a fonte de alegria vem da tua boca.
Do teu som.
Do sorriso que brinda a minha alma
e tilinta.

                                                                                          Helena Vicente

terça-feira, 24 de setembro de 2013

''Os poetas místicos são filósofos doentes, 
E os filósofos são homens doidos. 
Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem 
E dizem que as pedras têm alma 
E que os rios têm êxtases ao luar. 

Mas as flores, se sentissem, não eram flores, 
Eram gente; 
E se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas, não eram pedras; 
E se os rios tivessem êxtases ao luar, 
Os rios seriam homens doentes.''

                                                                                      Alberto Caeiro

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

você e a lua

Entra aqui dentro.
Aí fora tá tão frio.
O vento está desfazendo teus cachos
e está ressecando os seus lábios,
mas eu bem que gosto da sua boca vermelha
e do teu cabelo bagunçado.
Vamos tomar um suco
ou um café?
Você prefere vinho?
Vamos desligar a tevê, o celular.
Vamos desligar tudo que nos atrapalhar
pra que possamos conversar melhor.
Gosto tanto de te ouvir.
Me diz como foi o teu dia.
Me canta uma música
e eu te faço uma poesia.
Topa um filme embaixo das cobertas?
Talvez um jantar improvisado.
Uma pizza que tal?
Depois as estrelas e a lua como sobremesa para as almas
e o teu cheiro
como oxigênio pra mim.
Se não for pedir muito
que tal um beijo?

                                                                                                   Helena Vicente

quinta-feira, 12 de setembro de 2013


Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono
 
Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo
 
Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída
 
Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio


Chico Buarque

Estufando

A gente se mantém
com tudo aquilo que não podemos cuspir.
E a vida vai seguindo,
vai se enchendo,
enchendo tanto até desabar.
Buscamos outros caminhos,
mas sempre com a mesma finalidade.
Por quê?
Porque somos fracos.
Somos patéticos.
E eu também.
Eu sou tudo que já foi pra lá.
Eu sou tudo que já foi engolido.
Vomitado.
Recriado.
Eu continuo na mesma
em outra direção.

                                                                                  Helena Vicente

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A Casa Amarela

Casacos de lã.
Blusas de renda.
A solidão andava junto com o café.
As flores mortas no jardim.
No quintal um banco,
velho, cheio de lembranças.
Trazia as histórias cheias de vida,
mas agora virou apenas um banco.
As histórias são lidas
são contadas ainda pra quem quer ouvir,
são da vida que passou voando
pelo quintal já sem cor.
Nada mais que uma senhora frígida
aqui restou,
que de tanto usar renda,
acabou se rendendo
aos anos que passaram voando
pelos seus olhos sem esperança.
Sentia falta sim,
mas a falta não era o suficiente.
Se sentia morta já,
pois os seus sentimentos foram enterrados
junto com as pessoas que já não estão.
Bebia café.
Manchava as camisetas,
não ligava pra isso,
ela só estava acostumada com o amargo
que na sua boca ganhou morada.

                                                                                         Helena Vicente

quinta-feira, 18 de julho de 2013

nossa loucura

Palavras tão soltas no papel;
pensamentos esvoaçantes.
Lutando contra o vento,
conversando com o espelho.
Quem é louco o bastante
que saiba explicar
a loucura de ser?
Quem tem argumentos suficientes
para detalhar o sentir?
Eu não opino não,
só vejo a loucura me guiar.
Chego tão longe,
muitas vezes tao pouco eu sigo,
e ainda ninguém soube dizer
o por que que me deixo levar.
Há quem me chame de leve,
há quem diga que peso,
outros que, assim como eu, não opinam.
O que, de fato, somos?
Continuo seguindo
pra lá e pra cá,
sem rumo,
apenas vontades que duram
na intensidade da velocidade
e da direção.
                                                                                        Helena Vicente

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Tudo por acaso

''Qualquer dia,
Qualquer hora,
Tempo e dimensão;
O futuro foi agora
Tudo é invenção...
Ninguém vai
Saber de nada
E eu sei
Por qualquer poesia,
Por qualquer magia,
Por qualquer razão...''

                                     (Lenine)

segunda-feira, 1 de julho de 2013

mulheres tão formadas,
tão dignas,
descansam o dia na frente da tv,
reclamam do país,
mas assistem a tv.

inútil então,
falar dos problemas,
reclamar do sistema
para a própria solidão.

sair para a vida,
voltar para a casa,
falar das coisas,
reclamar das coisas,
discutem tristezas,
não perdoam,
colecionam mágoas,
mas reclamam do país.

mudanças sim,
mudanças para melhorar,
mas do que adianta
viver uma vida de mal consigo mesmo
e querer que o país evolua?
se não buscar melhoras internas
tudo continuará a mesma baderna.

                                                                                            Helena Vicente

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Os sons


Hoje tu me amas
amanhã assim já não é
e depois de acabar essa dança
de quem será você, afinal?
Assim como a melodia me trás você,
ela te leva no compasso,
te joga em outros braços
e me atira os seus ruídos,
sinto-lhes furarem meus ouvidos,
o coração,
os pensamentos.
Com a mente um pouco atribulada
cambalhoteio por aí,
fico quietinha, observando o silêncio
tento ouvir onde a sua melodia está
encontro-a um pouco desfocada,
mas não te vejo,
onde você foi parar?
Encontro-lhe no meio dos ruídos e desafinações,
juntamos nós,
juntamos o barulho e ficamos ali...
Surdo e mudos
até o próximo delírio. 
                                                                                                         Helena Vicente

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Ventania

Perceber que hoje em dia somos apenas os restos do que já fomos. Saber que o vento levou os poucos da gente e deixou um pouco ainda pra ser, que um furacão um dia há de levar também. 
O vento gosta de roubar o que nós somos. 
Saber que aquilo que fomos não poderemos mais ser porque o vento venta forte e o tempo passa rápido. O vento que nos roubou ontem agora está roubando outra pessoa nesse tempo que já não é mais o mesmo.
Reconstruir nossas partes para sermos roubados mais tarde, em outro temporal. Falecer com as chuvas e renascer também. 
Não tenho medo dos ventos e nem dos temporais. Eles levam as coisas boas, mas não esquecem de levar as ruins, e levam pra longe...bem longe de nós. O que nos foi roubado hoje não fará falta amanhã porque o tempo não pára e a gente não pára de mudar.  
O que sou agora já não serei amanhã. O que fui semana passada eu até já me esqueci.
Quem foi você antes de ser roubado? O que lhe foi tirado? O que te faz falta?



Helena Vicente

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Libertar-me


Libertar o amanhecer das estações
e libertar dos corações também as palavras que não foram ditas;
e colocar um ponto final no lugar das reticências;
e pertencer a cada nova manhã o azul da natureza,
e fazê-lo penetrar fundo na nossa alma e ensolarar.
Acompanhar a primavera inteira
e renascer.
Do sofá de casa posso ver
as crianças brincando lá fora
e sinto falta do tempo em que eu era livre.
Eu quero café quente no inverno
pra aquecer.
Junto com todo o amor que sai quentinho
e novo.
Quero brindar taças de verão
e dançar na chuva inteira não é uma má ideia também.
Poderia voar longe pro infinito e me perder,
mas também já vivo o infinito de mim mesma.
Me encontrar em cada lugar,
perceber meus próprios rastros na terra
e ficar feliz por isso.
Saber que deixei as minhas vontades ali
e ter a certeza de que elas são apenas pegadas...
rastros sem sentido,
e não sentir falta dos mesmos pés.
Abraçar o novo e sentir o cheiro
aumentar minhas asas para voar mais alto
mais alto e
mais alto
e ser mais feliz contendo o céu e as nuvens,
abraçando a lua e colecionando estrelas. 
                                                                                 Helena Vicente

sexta-feira, 26 de abril de 2013


Minha fraqueza está nítida.
O céu aqui tem cor diferente.
As nuvens são vermelhas.
O sol, negro.
Todos os rostos diferentes.
Não consigo me situar.
Me adaptar.
Conviver.
Saudade daquelas ruas.
Saudade das esquinas e becos.
Saudade daqueles velhos rostos.
Embora eu tivesse enjoado, sinto falta.
Sinto falta da monotonia.
Daqueles dias infinitos.
Lá eu sabia o que fazer.
Lá eu sabia pra onde ir.
Lá o céu me abraçava.
Aqui ele me cobre com indiferença.

Helena Vicente

terça-feira, 23 de abril de 2013


Eu gosto de ser livre. Gente que me aperta me irrita. Irrita como aquele sapato que deixou de servir e fica esmagando o dedo mindinho.
Eu nasci para voar. Gosto de explorar os lugares quietos, eles me fascinam por me proporcionar paz.
Gosto do silêncio, contemplo-o quando este domina um todo e os meus pensamentos se tornam nítidos e leves. 
Gente que sufoca me repugna, não tenho paciência nem para acompanhar uma novela, quem dirá crises alheias.
Gosto das pessoas, amo-as, quando estas me convém.
Já vivi muito para os outros, hoje em dia quero viver para mim.
                                                                                                                
                                                                                                                                              Helena Vicente

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Escrevo. E ponto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá do céu
lembram letras no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê.
                                                                                Paulo Leminski - Razão de ser.

terça-feira, 19 de março de 2013

Até te diria que seu sorriso tem cor.
Cinza, sabor paixão. 
Você gosta de dançar.
Dancei.
Você anda em passos largos.
Caí.
Você cava buracos no corredor.
Você ri de filmes de terror.
Me assustei.
Você planta flores no telhado.
Não as rega.
Morri de sede.
Você brinca com o fogo.
Me queimei. 
Você gosta de voar.
Me prendi. 
A liberdade gosta de te engolir.
Me afoguei.

                                                                                             Helena Vicente

quinta-feira, 14 de março de 2013

A Palavra

.. Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.

Pablo Neruda

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um pensamento sobre escritores

Escritores são poetas, com rima ou sem ela. Escritores são aqueles que querem jogar tudo no papel o que estão sentindo, pois assim, se sentem melhor.
A magia de escrever vai bem mais além de linhas e grandes textos, só quem escreve sabe o prazer que isso dá. 
Escrever vai além do papel, escrever é fazer uma viagem no tempo e poder chegar em qualquer lugar, a qualquer hora.
Escritores só querem explorar os horizontes e após isso, colocar no papel tudo o que sentiu.
Quando escrevemos, colocamos a nossa alma nisso, é isso que escritores fazem, vomitam suas almas em seus textos.
Escritores ficam completamente satisfeitos quando concluem uma obra e alguém a reconhece. Isso é a maior satisfação que um escritor pode receber. 
Brincar com as palavras, juntá-las, explorá-las, dividi-las e encaixá-las tem um valor tão grande e logo após ver o texto tomando forma, isso não tem preço. 
Escritores são livros, livros abertos cheio de páginas e palavras a serem lidas. 
Nós, escritores, só queremos ver nossos textos sendo reconhecidos, ou menos que isso, queremos apenas nos expressar e colocar no papel todas as palavras acumuladas durante nossa jornada de ida e vinda para casa. Queremos colocar cor e forma onde não tem. Queremos deixar o mundo mais bonito, talvez até melancólico. 
Escrever é um sentimento, o melhor de todos eles, o mais bonito e mais sólido. 

Helena Vicente

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O que te dizer agora que a poeira já baixou?
Eu vivia da sua voz ressonante, eu dependia dela pra dizer bem a verdade, mas agora tá tudo tão diferente.
Eu só sou uma pessoa incompleta e pensei que em ti encontraria a metade que faltava, mas o que posso encontrar em ti a não ser um mar de erros? Pensei bem nisso por dias, por noites e madrugadas intermináveis, pensei em ti o tempo todo nesses longos dias, achei que não encontraria algo melhor e pra ser sincera, não encontrei mesmo, mas eu percebi que eu só tinha a perder contigo.
Perdia minha sanidade, perdia o equilíbrio, perdia o meu orgulho.
Agora que te vejo de outro ângulo, percebo também que nem és tudo isso, você só é bom no que fazia comigo, isso eu admito, mas isso é tão vazio.

Helena Vicente

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Há tão pouco tempo.

Vamos sair.
Tomar uma taça de vinho-branco.
Praticar poesia.
Proclamar o nosso orgulho.
Vamos viver, há tão pouco tempo.
Vamos sair correndo e gritar nossas dores.
O mundo precisa saber o quanto fomos fortes.
O mundo precisa saber de nós.
Vamos dançar qualquer coisa que fizer um som.
Vamos implorar por mais um som.
Eu quero movimento.
Cansei da monotonia dos dias.
Somos tão jovens. 
Vamos brindar a nossa alegria
porque mesmo sendo momentânea, não deixa de ser alegria.
Vamos desorganizar o organizado.
Vamos desenhar bonecos de palito.
Porque não?
Temos tão pouco tempo.

Helena Vicente

Entra pra ver como você deixou o lugar.

Entra pra ver
como você deixou o lugar
E o tempo que levou pra arrumar
aquela gaveta
Entra pra ver
Mas tira o sapato pra entrar
cuidado que eu mudei de lugar
algumas certezas
pra não te magoar
Não tem porquê
Pra ajudar teu analista:
"Desculpa."
Mas se você quiser
alguém pra amar
ainda
Hoje não vai dar
Não vou estar
Te indico alguém
Mas fica um pouco mais
Que tal mais um café?
Ainda lembra disso?
Que bom
Mas se você quiser
alguém pra amar
ainda
Mas se você quiser
alguém pra anular
ainda
Desculpa, não vai dar
Não vou estar
Te indico alguém

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Seremos sempre o rascunho do destino, fazendo poesia, rasgando amor. Estou aqui tentando justificar erros, amenizar o desespero, usando palavras, ideias, e todo o meu vocabulário construído em milhares de viagens por livros (em vão) em um objetivo sem qualquer valor. Sou rascunho do nosso destino, porque, no final, quem tem preguiça passa a limpo tal como foi escrito e bem agora sou essa linha torta e solitária que se perdeu no papel encardido. Passa-nos a limpo, passa-me a limpo e diga-me que estava escrito, que esteve sempre escrito. Diga que apesar de todas as tentâncias e invenções abrasadoras, há algum fato nisso tudo que garanta que a magia não pode ser tão surreal a ponto de mudar esses erros. Amor, não existia corretivo naquele tempo, errei para que ficasse guardado no cosmos dessa utopia, está eternamente “errado”. Só queria ser o seu erro mais bonito, porque em tuas cartas senti a distância do verbo e mesmo assim insisti nos talvezes que, na verdade, nunca existiram. Traga-me o compasso.
"Aquela aquarela mudou
Na estrada peguei uma cor
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo um jiló
Eu tenho tesão é no mar
Assim que o inverno passar
Bateu uma saudade de ti…"

Chico Buarque

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Em transe.
Um trânsito de paixões correndo o corpo.
Amores ridículos, plurais, amores de esquinas da vida e de ruas estranhas, cantos do peito, da boca, canto do quarto branco e vazio. Cobre de culpa os pelos do corpo e eriçam os pelos da nuca no menor toque de vontade crua. Qualquer barulho enlouquece, qualquer luz acusa as verdades que desconheço. Nunca achei um meio termo saudável, não consigo arrumar a bagunça de dentro, não consigo evitar a bagunça de fora, todos os erros agridem o rosto no dia seguinte.
A vida assusta. O medo é mau. O mundo é grande demais.
Mas há no peito a vontade maior ainda, e na boca, todos os dentes pra morder os dias direto no coração.
Nota: estava esperando o mundo acabar mas acabei voltando pra casa. Ressaca moral de domingo no meio da semana.


(Daniella Leal)

“Quando a chuva veio… Ah, quando a chuva veio eu quis contar as gotas que molhavam, as nuvens que caíam, os passos corridos que os transeuntes davam! Quando a chuva veio a alma quis lavar, gritar, sacudir o corpo inteiro. Quando a chuva veio isso parecia um sertão há 365 dias sem ver água, e não digo um ano, não: são 365 dias para sentir a secura de cada um, na saudade, na sobriedade, na raça e no peito. Parecia o feto apressado querendo conhecer o mundo, ninguém esperaria mais um segundo para abrir as portas e lavar a alma. Sabe-se lá que sujeira a vida fez, porque às vezes jogar sujo não é somente com as cartas em mãos. Quando choveu, aquela gente toda correu em desespero, uns queriam fugir, outros queriam encontrar. Eu era a estatura que na chuva só enferrujava, e mesmo assim corri. As nuvens não sabiam se riam ou se choravam. Nem eu sabia mais o que era riso e o que era choro. Felicidade e tristeza são vizinhas, vira a esquina é uma, vira de novo e é outra. Amigo, não tem placa de rua que salve esse encontro, essa mistura. Essa é a minha rua. E aqui a chuva se some por dias. A alma se contorce, o chuveiro mais próximo não serve. Não, eu não quero um pano molhado. Estou como está o sertão. Ele seca, todo o povo chora e o céu ignora. E é por isso, unicamente por isso, que quando a chuva veio, eu fui.”
 

Camila Costa


você pé no chão, eu aerovia.
quando eu minoria, você população.
quando você hindu, eu vacaria.
quando eu caligrafia, você computação.
e se você amputação, quem me abraçaria?


terça-feira, 15 de janeiro de 2013


Universo barato

"Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida …
Sou isso, enfim …
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato."
 
- Álvaro de Campo