Lívia tinha no rosto as expressões de quem sabia demais do mundo. Carregava nos gestos tudo que aprendera cedo demais sobre as pessoas e sobre a realidade. Estava cansada, farta de toda a falsidade alheia que escorria em sua vida, deixando-a infeliz e amargurada. Lívia já não fazia questão de conhecer ninguém ou de preservar coisa alguma. Ela estava se sentindo sozinha demais e explorada pelos outros. Sempre dava tudo de si, acabava sendo sugada e jogada de lado. Lívia não sabia que a felicidade só visitaria quem doa sem cobrar nada em troca. Ela não estava errada em fazer o bem aos outros, só estava errada em pensar que isso deveria ser retribuído à ela. Os errados são os outros que usam as pessoas apenas quando elas satisfazem seus desejos. Lívia não é errada por se doar. O bem que fazemos aos outros é o único que permanece para sempre em nós mesmos. O ser humano só pode ser lembrado pelas coisas boas ou ruins. Lívia deixou todo o bem a quem entrou em sua vida por um motivo qualquer. Pode estar chateada com tudo e com todos, mas Lívia vai receber a felicidade em sua porta quando menos esperar, quando deixar de cobrar o que ela faz também, vai perceber que isso é vazio e impossível, afinal, as pessoas são muito diferentes uma das outras e é isso que faz o mundo ser mágico.
Helena Vicente