quarta-feira, 27 de março de 2019

Momentos que assustam

Há momentos em que a gente perde
o fio da meada
perde a contagem dos passos
na caminhada
e viaja sem localização exata
e viaja como se não houvesse nada
que possa piorar o rumo das coisas

há momentos em que a gente perde a hora
a hora de ir pra casa
a hora de nos mostrarmos firmes
na nossa direção
perdemos a firmeza
da nossa decisão

quando estamos perdidos,
sufocados pela falta de espaço
pela falta de tempo
para buscar o mapa que nos guia,
são momentos de introspecção

há momentos que passamos
por momentos de engano
por grandes quantidades de ilusão
nesses momentos nos perdemos
e falta tempo pra voltar atrás,
retomar o caminho, levantar,
continuar em nossa direção,
são momentos de solidão.

Faltam referências,
pontos de partida,
falta conexão com os elementos,
os elementos presentes nessa investida,
é como se estivéssemos soltos,
soltos ao ar,
e ninguém é capaz de nos segurar

isso remete a um vazio,
um vazio subliminar,
ninguém percebe de primeira,
só nos deixam escapar.

Estar presente,
mesmo ausente,
não me faz querer continuar.

Eu preciso me encontrar.

Helena Vicente

segunda-feira, 18 de março de 2019

Cíclico cínico

perde a rima
perde as palavras
perde o tanto,
tanto que me faltava

perde o gosto
perde o cheiro
perde o gosto do medo

perde a essência
a transparência
perde o encanto
da existência

perde o contato
perde o abraço
perde o cheiro
do que vale a pena

perde o contexto
perde o princípio
perde as raízes
se torna impossível

perde a esperança
perde o raro
perde no tempo,
um desamparo

perde a angústia
a solidão
perde o que faz sentido
para razão

perde o laço
lança o nó
solto ao vento
embaraçando o que há

ainda é pouco
o que perde, desgasta
desgasta o novo,
estreia o primeiro
lança de novo
o mal do começo

helena vicente