segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Inferno particular

Ninguém precisa frequentar
O meu inferno particular.
Carrego comigo os meus monstros
Para todo lugar que eu vá,
Eles me assombram,
Me fazem surtar.
Por vezes me controlam
E me fazem perder o controle de mim,
Eles tentam assombrar as pessoas a minha volta
E eu sempre tento impedi-los,
Só eu sei o quanto é ruim
O efeito que eles causam,
Mas não consigo conte-los sempre
E eles acabam sugando terceiros
E me deixando pior ainda.
Eles são fortes demais
E ganham força quando me sinto vulnerável,
Ninguém sabe o quanto me esforço
Pra conviver dentro de mim,
Mas como já falei, enfim
Ninguém precisa frequentar
O meu inferno particular.

Helena Vicente

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Ar

Que possamos lembrar sempre:
Depois do fim, só existe recomeço
E que a vida tende a te virar do avesso
E isso é o que molda tua essência,
Mesmo lhe tirando a inocência,
Te blinda pra não sofrer mais tarde.
Nem sempre o que julgamos essencial
Significa que precisamos de fato,
A nossa vaidade não tem fronteira,
Às vezes precisamos parar pra respirar
E só nesse momento em que paramos
É que conseguimos pensar melhor.
Que possamos lembrar disso mais tarde,
Que a sabedoria fica escondida
Esperando o momento do silêncio
Para se mostrar,
E que o fim convida o novo,
E o ciclo faz repetir,
E para não cair é preciso respirar.

Helena Vicente

domingo, 22 de janeiro de 2017

Reciclar

Nem tudo é tão sujo assim
Nesse mundo
E enquanto eu puder escrever
E souber escrever,
Farei com que minha poesia,
Cure o mal, absorva a tristeza, ou
Exale tristeza
Para que ninguém se sinta tão sozinho
também.
Enquanto eu puder,
E ainda me for conveniente,
Eu quero escrever sobre amor,
Sobre paz e liberdade.
Eu quero escrever que aqui
Há igualdade,

Já basta para o mundo
O seu próprio mal.

Eu me protejo da intoxicação
Que esse mundo me causa,
Eu uso das letras,
Como se fossem remédios,
E prefiro fechar os olhos, às vezes
Para que a poesia continue me sendo
Suficiente.

Helena Vicente

IX

  Anelise era uma menina, digo uma menina pelo fato de estar no auge dos seus 16 e ser dona de uma ingenuidade gigantesca, carregada dentro do seu coração genuíno e expressada através dos seus olhos infantis. De segunda a sexta-feira frequentava a mesma parada de ônibus na esquina da sua casa, nada acontecia no local onde morava. Pegava o ônibus e se deslocava para a sua escola que ficava à 17km da sua casa. Numa quarta-feira qualquer, foi até a parada no mesmo horário e para o mesmo fim, lá aguardou sentada pelo seu ônibus amarelinho, pôs os fones no ouvido e relaxou, teria prova logo mais e escolhera não pensar sobre isso, pois pensar demais atrapalhava sua concentração e deixava-a ansiosa. Na escola tudo sempre igual, sentava-se no meio da classe, 4ª mesa a esquerda da janela, a professora de matemática já havia chegado e distribuído as provas, uma em cada classe, Anelise sentou-se, observou a prova, respirou fundo e começou com o que sabia. Terminou em 20 minutos e sentiu-se satisfeita, deu o seu melhor como sempre. No fim da aula a matéria era artes, da qual Anelise fazia muito gosto, e a professora solicitou a todos os alunos que levassem para a escola na aula seguinte alguns materiais para colagens. Anelise já se programou para comprar os materiais em questão. Durante a tarde, a mesma cena: Anelise na parada esperando o ônibus para ir à papelaria. Ao chegar dentro do ônibus, Anelise retira seu livro da mochila para ler enquanto seguia viagem, e que viagem... Levava cerca de 40 minutos para chegar ao centro da cidade, o que resultava em muitos capítulos concluídos de A Menina que Roubava Livros. Do seu lado, um rapaz sentou-se, Anelise conseguia ouvir a música que ele estava escutando através do fone de ouvido, mas não soube distinguir qual era, continuou a ler seu livro, agora um pouco menos concentrada. O rapaz tirou um dos fones e olhou para ela, Anelise continuou, um pouco envergonhada, até que o rapaz cumprimenta-a, Anelise gelou, respondeu cautelosamente, em seguida voltou para seu livro. Ele se apressou em perguntar se ela estava gostando do assunto tratado em seu livro, ela sorriu e disse que sim, na verdade poderia dizer que estava amando, mas preferiu apenas concordar, continuando o assunto ele falou que já havia lido e tinha adorado, em seguida avisou o motorista que queria descer, olhou para Anelise e disse "a gente se encontra por aí", ela assentiu. Fechou o livro após a saída do rapaz do qual não sabia o nome, estava extasiada pelo o ocorrido, não esperava conhecer alguém que gostasse tanto do mesmo livro que ela, acreditava que ele tinha pouco mais de 17 anos, um rapaz bonito, moreno e de grande sorriso, o que bastou para deixar Anelise com aquele sentimento de ''amor a primeira vista'' por bastante tempo. Anelise já havia se relacionado com um garoto antes, nada muito sério, durou poucas semanas, mas suficientes para fazê-la detestar o garoto com todas as forças, mas esse rapaz do ônibus era diferente, ela sentiu, percebeu que ele era inteligente e adorou sua simpatia. Chegou ao seu destino, comprou algumas revistas, tesoura e cola, mas o seu pensamento não era na aula de artes. 
Passou muito tempo, Anelise nunca mais vira o rapaz do ônibus, e de vez em quando até tentava encontrá-lo, pegando o mesmo transporte, no mesmo horário, mas isso foi deixando-a frustrada demais e ela resolveu esquecer, "que seja". Têm coisas que devemos aproveitar, guardar numa caixinha de lembrança e continuar, foi rápida a história que vivera, queria poder conhecê-lo melhor, mas conformou-se em guardar o sorriso do belo garoto nos seus pensamentos de menina.
Helena Vicente

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Dona do tempo

Eu sou dona da minha própria métrica
Da minha própria poesia
E do jeito de decidir as coisas como penso ser melhor
Eu sou dona dos meus passos,
Dona do meu cansaço
Coisa que prefiro não compartilhar com ninguém.
Ninguém nasceu pra viver de atraso,
Ainda mais quando já tem o próprio relógio bem adiantado.
Eu só faço continuar a pé,
Enquanto tu permaneces no barco
Eu torço para nenhuma onda te acertar.
Seguindo caminhando, buscando distração
O vento bate no meu rosto
E eu observo o quanto é bom estar em paz.
Dentro de mim há muito mais
Do que qualquer conceito mal elaborado
Sobre liberdade.
Não posso explicar porque não tenho tempo
E nem medo.
Eu não quero lhe assustar.

Helena Vicente