domingo, 30 de outubro de 2016

Solto

Se você pudesse ser alguma daquelas coisas que, quando deitas em teu travesseiro à noite, pensas de uma forma incontrolável, o que serias?
Ou se talvez pudesse apenas viver vinte minutos daquilo que tanto sonhas, qual dos teus grandes sonhos tu escolherias para viver?

Eu, por exemplo, não saberia responder caso essas perguntas fossem direcionadas a mim. Pensamos tanto em tantas coisas, criamos mundos utópicos, adicionamos sentimento só para sentir o que seria, se fosse. Nos imaginamos sendo outros, com outras atitudes, com outros sonhos. Nos imaginamos com outros objetivos e com outras vontades. Como seria?
Inventamos cenas, histórias, palavras, poemas só para fugir um pouco da rotina, do cansaço. Nos libertamos através do pensamento e da criatividade. Nos encantamos com quem nos permite ser o que nós somos, com todos os nossos devaneios que se confundem. Não queremos ouvir o que, de fato, é. Sabemos o que acontece a nossa volta, o que não nos proíbe de inventar uma maneira melhor de perceber o que nos cerca.

Helena Vicente

terça-feira, 25 de outubro de 2016

As borboletas voltaram

Eu não preciso
Colocar o relógio para despertar,
A ansiedade sempre lembra de me acordar,
E por vezes, nem me deixa dormir.
Antes de acontecer
Eu já vivi,
Eu já sofri
E eu já venci.
Antes de acontecer
Eu já sei exatamente o que fazer.
A ansiedade é como um alerta
E eu estou sempre bem desperta,
Pronta até mesmo
Para o que nem precisa.
Pronta para o que talvez nem virá,
Mas eu espero
Com todas as minha borboletas.

Helena Vicente

terça-feira, 4 de outubro de 2016

VII

   Mônica tem feito de tudo para não perder o juízo, mas tem enlouquecido. Tudo que ela tenta evitar, cai sobre ela como uma tempestade desonesta, aquelas que acontecem sem previsão, aquelas que acontecem quando não levamos guarda-chuva, aquelas que muitos denominam como coincidência, mas Mônica chama isso de azar. Quanto mais Mônica foge, quanto mais luta pra seguir o caminho oposto a tudo que ela quer evitar, mais ela se aproxima, mais ela enlouquece. Mônica odeia os acasos, nenhum a protege, como dizem os poemas por aí, só a deixam mais nua do que antes, mais vulnerável. Quando as tempestades chegam, ela nunca sabe como agir. Não sabe se deve se esconder, procurar abrigo, não sabe se deve dar a cara às nuvens. Quando as coincidência acontecem, ela age de forma natural e sempre acaba muito mal, ela sempre vai pra casa pensando o quanto ela odeia momentos inesperados, ela nunca sabe o que fazer, nunca sabe o que dizer, mas nunca se entristeceu por isso. Ela até sorri com o que ela denomina de azar. Às vezes é azar curioso, no qual ela fica fantasiando, imaginando o que poderia ter sido feito. Acha até engraçado porque não vê razão nesses momentos sem previsão, não sabe por que eles acontecem. Talvez, por mais que ela tente evitar, o fato dela pensar tanto pode atrair e atrai. Mônica está sempre querendo uma coincidência agradável (para ela), mas nunca sabe o que dizer. Ela não leva guarda-chuva justamente por sentir a necessidade de se molhar. Ela evita as ruas, mas não completamente. Ela sente uma vontade ardente de sentir o que as coincidências lhe propõem, por mais que nem sempre sejam do jeito que ela planeja, do jeito que ela inconscientemente se prepara, por mais que odeie os acasos. Que seja.
Helena Vicente