segunda-feira, 27 de junho de 2016

Ponto de vista

Percebes as nuvens que cobrem meus olhos,
Que escurecem minha alma,
Que escondem o meu sol?

Não há nuvens sobre teus olhos
E tua alma escura
É resultado de outro clima.

Não vês a falta de luz
Em todo esse lugar?
Não escutas o barulho
Que me ensurdece?

A luz se faz entrar pelas janelas
E aqui nesse lugar,
O único barulho que faz-se notar
É o som dos pássaros
A cantarolar.

Não vês a fumaça
Que têm naquelas árvores?
Estão a queimar!

A fumaça foi o vento que trouxe
Junto com a poeira de algum outro lugar.
Assim como o vento trouxe,
O vento leva,
Não há com o que se preocupar.

Mas as nuvens, quem foi que trouxe?

Não há nuvens aqui fora,
Não há escuridão hoje em dia.
A poeira que te cega,
A fumaça que te circula,
É permissão somente tua.


Helena Vicente

quarta-feira, 22 de junho de 2016

VI

  Camila não quer se preocupar com o amor, não quer falar sobre isso. Quando lhe questionam:
- E o teu coração, grande garota?
Camila cala, deixa-os falando aos ventos.
Quando pressionada, sai batendo todas as portas que pode da sala até seu quarto.
- Por que se interessam tanto?
Acredita que as pessoas só se interessam por coisas vazias. “Elas nem sabem o que é o amor, não sabem e não saberão”, pensa.
Para ela, não é amor todo o mel percebido nos filmes de romances baratos até pra quem paga em um cinema.  Para ela, não é amor selar um contrato de fidelidade sob os olhos de um padre. Ela nem sequer tem um conceito definido, mas esse é o seu jogo, é assim que ela mantém sua mente aberta. Ela não tem conceito definido para nada, sabe que tudo é passível de mudanças grandes ou pequenas, de mudanças que fazem toda a diferença. Não assume uma postura, não declara suas vontades que mudam cada dia que ela acorda. Mudam quando ela acorda em sua cama, mudam quando ela acorda em outra cama, com alguém. Mudam quando ela se olha no espelho e percebe que no fundo ela só quer liberdade. Quer liberdade até dela mesma, quer liberdade de todos os pensamentos. Camila observa que ninguém sabe sobre o amor, nem mesmo quem escreve esse texto no fim da noite.
Helena Vicente

terça-feira, 7 de junho de 2016

Pulsões

É mais morte do que vida
As pulsões que te conduzem
É o amor que te atrapalha
A conduzir tua própria mente
É a mentira que te circunda
Que não dá espaço para a liberdade
É a liberdade
Que tanto do espaço tu absorveu
É na absorção de todos os problemas
Que de fato, te assolam
São as palavras que nunca foram ditas
Pelo medo do inevitável
É o inevitável que te cansa
Te cansa evitar o que não pode
Te incomoda demonstrar tua exaustão
Te surpreende a indiferença nítida
E te lança amargura todos os olhares em volta
Assuma tua dor
E fuja para qualquer lugar
Que te proporcione paz ao respirar
Que não te cobre fingimento
Que não te cubra de solidão.


Helena Vicente