quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Jogo

Lucidez
que essa insensatez
não poderá me destruir
de vez

Pés no chão
para que o meu coração
não decida por si mesmo
orientado pela paixão

Interrogação
é como fica a minha mente
quando tu diz o que sente
contrariando a razão

Questionamento
é o que produz meu pensamento
para analisar esse sentimento
sem ter explicação

Calma
para poder libertar a minha alma
aceitando esse momento
bebendo um gole desse sentimento bom

Clareza
pra entender com certeza
o que faz parte de mim
determinado pela minha natureza

Me mantenho firme
nesse espaço quase íngreme
estacionada no meio
sem saber se subo ou se desço

Suprimi
a fim de acabar com as perguntas
só me restaram poucas respostas vagas
era o que bastava, presumi


Helena Vicente



segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Sucinto

Os teus hábitos
e plantões de desespero
não dizem mais sobre ti
do que as tuas fugas.

H.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O novo já conhecido

Amar e controlar,
duas coisas que frequentemente as pessoas confundem.
Amar e possuir,
duas coisas que se chocam,
o impacto quebra
todo o sentimento bom.
Ninguém funciona aos pedaços,
possuir alguém é muito arriscado,
ao passo de que quem é dono
não faz parte,
só inventa a arte
que deve ser obedecida a qualquer preço.
Somos realmente muito ingênuos,
e indefesos,
inventamos uma realidade alternativa
pra não viver o momento
tal qual ele se apresenta,
ameaça, sugere o fim.
Que tenhamos coragem
para enfrentar o que vier,
que não nos esqueçamos
de quem somos,
da base sobre a qual nossos pés se firmam.
E que possamos nos orgulhar
por saber amar sem possuir,
por saber nos entregar sem permitir
que dominem os nossos sonhos.

Helena Vicente

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Linhas imaginárias

Linhas imaginárias,
imagino que me levem
a algum lugar,
me balançam
pra lá
e pra cá,
me entontam
pra lá
e pra cá.
Linhas imaginárias,
imagino que possam me explicar,
imagino que posso rodopiar
e chegar a algum lugar.
Linhas imaginárias
hão de me guiar
pra lá
e pra cá
até consolidar o nó,
são linhas imaginárias que me guiam,
eu nunca estarei só.
Linhas imaginárias
eu traço no teu corpo,
pra lá
e pra cá,
desvendando nuances,
tons desconhecidos,
tons imaginários
guiam essas linhas,
eu vou pra lá
e pra cá,
até cansar.

Helena Vicente

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Não posso perder

eu não quero perder
todo valor dado às minúcias
que eu tinha quando criança

não quero perder a felicidade encontrada
ao me encontrar numa melodia
que traduzia exatamente o que eu sentia
e o que eu sentia?
eu não quero perder

não quero perder o olhar que eu lançava
pro horizonte
imaginando tudo tão grande

não quero perder a ansiedade
que tomava conta de mim
e me enchia de esperança
por não saber o que vinha,
mas por esperar algo bonito

não quero perder a palavra
que tira de dentro do meu peito
o que precisa ser dito,
o que precisa ser sentido
por mais alguém

eu não quero me perder
de mim mesma,
nem o que valorizo e torno importante,
eu não quero perder a sutileza
de uma inocência
que ainda existe

não quero que o mundo me tire
o que tem significado e magia,
não quero que o mundo me tire,
e não quero que o mundo me retribua
com a eterna agonia
de quem já perdeu o que sente.

helena vicente

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Variantes

A hora não passa
a agonia ultrapassa
todas as vontades vãs de permanecer
em equilíbrio
nem tudo é tão tranquilo
viver é tentar se posicionar no meio
da gangorra,
sem deixar que ela penda pro lado
errado,
(todos os lados são errados)
cuidando sempre para não cair
em colapso
para não dançar num desabafo,
tomando um passo de contar
a quem não quer ouvir,
no fim não tem para onde ir.
Sempre será nós,
por nós mesmos,
na mesma gangorra
(de desespero)
buscando equilíbrio num espaço
que varia com o tempo,
nada é constante,
e não obstante
eu já caí daqui algumas vezes. 

Helena Vicente

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Familiar

Pequenas lembranças encontradas
dentro de caixas,
debaixo do tapete,
atrás da porta,
por todo lado.
Pequenas lembranças que trazem
o que existiu de verdade.
Quando faz muito tempo,
quando faz um tempo ruim,
eu me esforço pra lembrar do que era,
do que eu fui.
Consigo sentir o gosto,
o cheiro,
e tudo parece tão real de novo.
Tudo parece tão intenso,
com cores que vibram outra vez,
cores que desbotam e voltam a brilhar,
vez ou outra.
Não há formas de apagar,
por um longo tempo pensávamos que sim, mas não há formas,
não há maneiras de sobrepor as lembranças,
a gente vive uma por vez,
sente saudade de todas de uma só vez,
e as cores ainda vibram muito,
os cheiros ainda são muito nítidos,
tudo é tão familiar.
Em um momento me pego longe,
distante demais até para ouvir meu coração,
em outro me faço presente,
sem esforço,
estou aqui de novo, tão logo quanto fui,
tudo é tão ardente,
os pilares da minha construção tremem,
anseiam pelas raízes que me fizeram ser assim,
tudo ainda é tão presente,
e mesmo que eu me esforce para fugir,
na verdade tudo está aqui,
em harmonia, às vezes pulsando,
às vezes acorrentando, mas também pode libertar.

Helena Vicente


quarta-feira, 27 de março de 2019

Momentos que assustam

Há momentos em que a gente perde
o fio da meada
perde a contagem dos passos
na caminhada
e viaja sem localização exata
e viaja como se não houvesse nada
que possa piorar o rumo das coisas

há momentos em que a gente perde a hora
a hora de ir pra casa
a hora de nos mostrarmos firmes
na nossa direção
perdemos a firmeza
da nossa decisão

quando estamos perdidos,
sufocados pela falta de espaço
pela falta de tempo
para buscar o mapa que nos guia,
são momentos de introspecção

há momentos que passamos
por momentos de engano
por grandes quantidades de ilusão
nesses momentos nos perdemos
e falta tempo pra voltar atrás,
retomar o caminho, levantar,
continuar em nossa direção,
são momentos de solidão.

Faltam referências,
pontos de partida,
falta conexão com os elementos,
os elementos presentes nessa investida,
é como se estivéssemos soltos,
soltos ao ar,
e ninguém é capaz de nos segurar

isso remete a um vazio,
um vazio subliminar,
ninguém percebe de primeira,
só nos deixam escapar.

Estar presente,
mesmo ausente,
não me faz querer continuar.

Eu preciso me encontrar.

Helena Vicente

segunda-feira, 18 de março de 2019

Cíclico cínico

perde a rima
perde as palavras
perde o tanto,
tanto que me faltava

perde o gosto
perde o cheiro
perde o gosto do medo

perde a essência
a transparência
perde o encanto
da existência

perde o contato
perde o abraço
perde o cheiro
do que vale a pena

perde o contexto
perde o princípio
perde as raízes
se torna impossível

perde a esperança
perde o raro
perde no tempo,
um desamparo

perde a angústia
a solidão
perde o que faz sentido
para razão

perde o laço
lança o nó
solto ao vento
embaraçando o que há

ainda é pouco
o que perde, desgasta
desgasta o novo,
estreia o primeiro
lança de novo
o mal do começo

helena vicente

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Só pra dizer, e diz

Ruas
Distâncias e
Fugas
Escrevo quando puder

Máscaras
Soltas
Ventos perfeitos
Estarei enquanto quiser

Escritos
Relatos
Desabafos
Poderei dizer quando vier

Jornais amassados
Notícias
Café
A vida segue o ritmo
Enquanto der

No mar
Canções
Violão
Fico ouvindo enquanto tu compõe

No telefone
Uma mensagem de voz
Ignorada
Já era hora de ir pra casa

Desespero
Na geladeira um lembrete:
Não esqueça de adormecer
Enquanto anoitece

Feche os olhos, menina
Os sonhos te guiam
Enquanto tu floresce


Helena Vicente

sábado, 5 de janeiro de 2019

O eco das perguntas

Uma pergunta lançada ao vento
Só me retorna o eco
Sempre voltando a pergunta a mim mesma
Lá pra cima tudo é vazio
E distante
As promessas se quebraram
Quebrando um pouco a minha fé
Em pedaços
Foi com o vento o meu questionamento
E ele nunca mais trouxe de volta a minha calma
A gente nunca sabe o que fazer
No meio do temporal
Tudo se anula com o tempo
Menos as nossas perguntas
Que perpetuam no eco
De uma vida sem sentido
O quanto a gente se esforçou
Que não foi suficiente?
Tudo que eu não entendo
Vira poesia
Porque ao menos a melancolia
Acalenta esse vazio

Helena Vicente

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Longe demais

Eu quero ficar longe
Cada vez mais
Distante
Sem me pegar olhando pro lado
Buscando algo
Que não tem.
Quero ficar longe,
Até que eu me perca
e não saiba mais voltar.
Eu nunca quis voltar,
Mas os acasos comandam
Onde nós vamos parar,
E fielmente eu acredito:
Tudo acontece por um motivo,
Mas eu quero ficar longe daqui,
Sem ter tempo para descobrir
O porquê meu peito arde.
Inútil seria, uma resposta vazia,
Nada pode ser feito.

Helena Vicente