terça-feira, 4 de outubro de 2016

VII

   Mônica tem feito de tudo para não perder o juízo, mas tem enlouquecido. Tudo que ela tenta evitar, cai sobre ela como uma tempestade desonesta, aquelas que acontecem sem previsão, aquelas que acontecem quando não levamos guarda-chuva, aquelas que muitos denominam como coincidência, mas Mônica chama isso de azar. Quanto mais Mônica foge, quanto mais luta pra seguir o caminho oposto a tudo que ela quer evitar, mais ela se aproxima, mais ela enlouquece. Mônica odeia os acasos, nenhum a protege, como dizem os poemas por aí, só a deixam mais nua do que antes, mais vulnerável. Quando as tempestades chegam, ela nunca sabe como agir. Não sabe se deve se esconder, procurar abrigo, não sabe se deve dar a cara às nuvens. Quando as coincidência acontecem, ela age de forma natural e sempre acaba muito mal, ela sempre vai pra casa pensando o quanto ela odeia momentos inesperados, ela nunca sabe o que fazer, nunca sabe o que dizer, mas nunca se entristeceu por isso. Ela até sorri com o que ela denomina de azar. Às vezes é azar curioso, no qual ela fica fantasiando, imaginando o que poderia ter sido feito. Acha até engraçado porque não vê razão nesses momentos sem previsão, não sabe por que eles acontecem. Talvez, por mais que ela tente evitar, o fato dela pensar tanto pode atrair e atrai. Mônica está sempre querendo uma coincidência agradável (para ela), mas nunca sabe o que dizer. Ela não leva guarda-chuva justamente por sentir a necessidade de se molhar. Ela evita as ruas, mas não completamente. Ela sente uma vontade ardente de sentir o que as coincidências lhe propõem, por mais que nem sempre sejam do jeito que ela planeja, do jeito que ela inconscientemente se prepara, por mais que odeie os acasos. Que seja.
Helena Vicente

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