quinta-feira, 25 de março de 2021

Março de 2020/2021 (...)

Estamos vivendo em um ciclo sem fim.
Desde que tudo começou, nunca tínhamos ficado assim.
É um luto corrosivo,
é um medo do amanhã,
é uma guerra sem previsão.
Estamos em guerra entre nós mesmos.
Onde uma atitude interfere na vida de todos.
Dentro de mim, agora, mora um vazio,
mora um medo de que os nossos melhores tempos tenham sido extintos.
Passado distante.
Sinto todos os dias como se tivesse perdendo tempo,
tempo em que eu poderia estar ao lado de quem amo,
demonstrando todo afeto que ainda é pouco,
pra aproveitar a companhia de quem está aqui.
A morte sempre me pareceu distante, opaca,
agora penso nela com muita nitidez.
E não há o que fazer, não há a quem recorrer,
só temos uma missão que é nos proteger,
para assim, proteger os outros.
Nunca dependemos tanto do conceito de sociedade
e infelizmente há quem pense
que não é necessário fazer nada,
e com isso acaba enlutando famílias que passaram esse último ano,
sem se ver, sem festejar (porque não há o que festejar),
acaba enlutando famílias e tirando o direito da despedida,
pois enquanto vida, sempre tivemos medo de perder sem poder nos despedir.
De chegar ao fim sem poder tocar a mão, o rosto,
sem poder ver quem tanto amamos se ir, para sempre,
pois o caixão deve ser fechado,
o que deixa o luto aberto por mais tempo.
Que não sejamos egoístas, e que nasça uma empatia transcendente,
capaz de colocar na cabeça dessa gente
que todos nós precisamos nos unir,
para exterminar o mal que nos extermina,
sem avisar, sem esperar.
Precisamos lutar juntos, e não um contra o outro.
É difícil lutar em uma guerra invisível,
e mais difícil ainda é permanecer nela sem aliados.
Nunca mais sairemos os mesmos desses anos infinitos, 
mas que tenhamos tempo pra recuperar o tempo perdido
do lado das vidas que tanto a gente preza.

Helena Vicente

quinta-feira, 18 de março de 2021

Retrocesso energético

Tem dias que dá vontade 
De viver na superficialidade 
De todo mundo
Como se nada fosse profundo,
Energético,
Intenso demais.
Da vontade de abandonar as teorias,
Viver só de passagem,
Como a grande maioria faz.
Parece ser mais simples 
Não colocar sentimento 
Em tudo que aparece pelo caminho.
Da vontade de escolher,
Dessa vez fazer menor, 
Não mergulhar em todo rio, 
Porque grandes rios também podem ser rasos.
Da vontade de ser rasa também,
De transparecer ilusões, mas não sentir,
De propagar sentimento,
Mas se manter alheio 
A tudo que achamos que precisamos, 
A tudo que imaginamos ser grande demais,
Talvez seja, de fato,
Mas perceber e absorver o todo
É cansativo, exige grande abertura de nós mesmos,
O que nos torna vulnerável a absorção de todas as energias 
Que existem vivendo alheias por aí,
Sem intenção, modificando,
Alterando o formato de tudo 
Que já estava pronto 
Criando experiências sem permissão,
Mas só, assim sendo, como uma sequência 
Do que é necessário seguir.
Mesmo tentando fugir, 
Sempre acabo entendendo esse processo 
E mesmo que eu tente o retrocesso 
Acabo me frustrando com o resultado.
Seguimos por aí.

Helena Vicente