sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

IV

Os olhinhos de Melissa ficam lindos quando chora, ficam vermelhos e inquietos expressando sua vulnerabilidade. Tão fácil ver Melissa sofrer. Ela percebe cada detalhe e chora, ela tem uma delicadeza rara, consegue sentir o que ninguém mais sente. Ela cuida dos seus amigos e dos seus cachorros, ela passa por todas as fases junto com seus irmãos e sofre. Tem uma percepção incrível das coisas, nada passa despercebido e então chora. Ela esconde seus medos tão fundo que sente no mais íntimo da sua alma a dor que eles lhe causam. Ela queria um abraço que a confortasse, queria poder chorar sem peso nenhum no abraço de quem a ama, mas ao mesmo tempo gostaria que ninguém soubesse dos seus fracassos, entretanto Melissa sabe que todo mundo precisa de alguém. Ela faz tudo sempre igual e ninguém sabe o cansaço que isso lhe causa, ninguém sabe sobre o cansaço de Melissa e sobre o quanto ela é infeliz com todas as responsabilidades que ela nem mesmo quer. Os olhinhos de Melissa ficam lindos quando chora, ela implora lá no fundo que alguém a salve dela mesma. Ninguém consegue salvá-la, nem mesmo seus pais que tanto tentam. Ela é isso, ela se tornou assim e agora já é tarde. Todos os dias ela é isso, chega da escola e se tranca no seu quarto, no seu mundo onde pode chorar em paz sem que alguém lhe questione, mas todo mundo sabe que Melissa tem chorado muito. Os olhinhos de Melissa nunca mentem.
Helena Vicente

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

24h

Eu ainda tenho
A minha dor de cabeça
Todos os dias,
Mas eu também tenho
A chuva
Que chove
Pra me acalmar.
Ainda, depois disso,
Eu tenho o sol
Que nasce
Pra me lembrar
Que ainda é muito cedo
Pra pensar
Que nada é justo,
É muito cedo
Pra pensar
E eu ainda tenho
A noite
Que me liberta,
A lua
Que me desperta
De todo pesadelo ruim.
E enquanto for assim
Eu tenho tudo
Porque é só acreditar
Que o paraíso é logo ali
Ou é só não acreditar
Em absolutamente nada.
Cada um sabe
Que doce ilusão deve alimentar
Cada um sabe
Qual solidão consegue suportar.

Helena Vicente

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

III

  Hoje o dia está ruim para todo mundo, para Luana não está sendo muito diferente. É um dia chuvoso de novembro, as pessoas estão distantes uma das outras e Luana está submersa em seus pensamentos descontrolados. Pensa muito e pensa mais sobre tudo que ainda há pela frente. Sente o anseio pelo futuro tremer a sua barriga e lhe causar arrepios. A ansiedade é um sentimento predominante em Luana. Nesses dias chuvosos tudo o que ela faz é pensar nas coisas que já aconteceram. A melancolia está em todo lugar, a cada pingo de chuva aumenta ainda mais. Não se sente sozinha, apenas sente a solidão nas pessoas que a cerca. Esperando o sinal para a primeira aula, ela fica ouvindo músicas nostálgicas de algum final de semana que passou, se perde nela mesma, fecha os olhos e dança esquecendo-se das pessoas ao redor. Ela nem liga. Ninguém sabe o que ela está sentindo e, se soubessem, morreriam de inveja. O dia está ruim pra todo mundo, mas basta lembrar-se dos bons sentimentos que o brilho volta e a nostalgia a afoga num mar inteiro de sensações indescritíveis. Ela repete a mesma música várias vezes e não sente interesse na conversa vazia dos outros. Ela quer se afundar nela mesma e aproveitar tudo que ainda tem.
Helena Vicente