quinta-feira, 26 de novembro de 2015

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Em todo lugar
Há pelo menos
Uma pessoa
Sofrendo por amor.
Em todo lugar
Há alguém
Que carrega uma dor
Irreversível.
Tudo que temos
Carregamos conosco
A cada porta que abrimos,
A cada passo que damos,
Somos isso
E continuaremos
Com isso
Até o fim.
Em todo lugar
Há um olhar vazio
E arrependido.
Em todo lugar
Há um vazio escondido
Das outras pessoas.
Em toda rotina
Há um sofrimento.
Somos o que somos
Independente dos outros.
Viver com nós mesmos,
Dentro de nós mesmos
Pode ser o que mais acorrenta
E asfixia.
A cada manhã,
A cada despertar do sono
O objetivo é o mesmo:
Sufocar o coração em chamas
E a mente em completo desalinho.
O esforço para dormir à noite
É o mesmo todos os dias
Porque o que há dentro de nós
Jamais esquece de gritar
E afastar a calma necessária
Pro sono e a paz se estabelecerem.
É tudo que temos,
É tudo que somos.
A confusão é o sinônimo de qualquer tentativa
De ser feliz.

Helena Vicente

sábado, 14 de novembro de 2015

O objetivo é continuar

Têm coisas no fundo da nossa alma
Que imploram silêncio,
Que imploram preservação
Como um segredo radioativo.
Têm coisas que perdem o controle
Quando mencionadas
E quando isso acontece
Tudo perde o rumo e o foco,
Tudo toma um destino independente
E isso é perigoso demais.
Têm coisas que doem tanto
Podendo ser comparadas com uma faca
Atravessando o estômago.
Têm coisas que precisam ficar contidas
Para que as lágrimas não caiam
E para que a vida possa seguir em frente
Nem que seja com uma força inexistente,
O objetivo é continuar.

Helena Vicente

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

I

  Clarice chega em casa tão tarde da noite, retira suas roupas manchadas de vinho que alguém derrubou sobre ela sem querer, até fica triste por uns segundos, gostava da blusa azul que havia ganhado da sua tia Luísa pouco antes de seu aniversário em agosto. Coloca suas roupas velhas de dormir, vai escovar os dentes e repara seu rosto cansado no espelho sujo do banheiro, repara o quanto está envelhecendo rápido. Clarice sussurra confissões perigosas para as paredes, "ah se essas paredes falassem" pensa, "sorte que são mudas". Clarice não entende o que se passa, o que a faz chorar toda noite. Clarice tenta entender o rumo que sua vida tem tomado sem que ela faça qualquer esforço. Clarice é solitária, conclui ser melhor sozinha, acha que outra pessoa em sua vida seria um desastre, ela não sabe lidar com as emoções alheias. Clarice está cansada de pensar sobre isso também, mas é necessário. Ela só quer que seu coração pulse por função própria, não faz questão de ser movimentada por qualquer tipo de sentimento, apesar disso, precisa de um pouco de atenção, mas isso recebe de seu gato e ele é como ela, solitário. Os dois são parecidos, ele é a sua família e Clarice se sente feliz assim. Muitas pessoas só servem pra confundir. Clarice não quer se perder novamente e é na solidão que se sente segura.
Helena Vicente