domingo, 19 de dezembro de 2021

Falta

Não se sabe ao certo 
Não se sabe o tamanho 
Não se sabe o porquê
Mas se sabe que falta 

Falta 
Não se sabe o que 
Não se sabe desde quando 
Não se sabe o motivo 
Mas se sabe que falta 

Falta 
Não se sabe até quando 
Não se sabe até quanto 
Essa falta pode afetar 
Mas se sabe que falta 

Falta 
Não se sabe o que fazer 
Não se sabe como suprir 
Não se sabe como resolver 
Mas se sabe que 
Falta 

Helena Vicente 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

O afeto do contato

com todas as tuas marcas,
com todos os teus apelos,
com tudo que te cerca 
e te causa certo medo 

com tudo que vive 
com tudo que cresce 
com tudo que morre 
com tudo que deixas ir 

com todas as transformações,
com todas as verdades absolutas,
verdades absurdas e até cruéis,
com tudo que tens dentro de ti 
apenas és o que és

rodeado de anseios,
de palavras cheias que não se esvaziam,
de promessas grandes que irradiam 
de uma esperança que mantém tudo no lugar 

qual é o nosso lugar? 
um espaço indefinível,
onde todos os dias se torna quase invisível 
se a gente não puder mostrar pra que viemos

queira para o bem, queira para o mal
és o que és,
e não há como fazer igual,

único, com teu processo, 
preenchendo espaços que ainda não vê,
escrevendo linhas que ainda não lê, 
esperando alguém passar e te dizer: 
eu consigo te entender, eu posso te acolher,
és puro em tua singularidade,
perfeito em tua individualidade,
só te tiram o que não és

Helena Vicente 

sábado, 3 de julho de 2021

Silêncio

Em silêncio eu te observo,
Eu te escuto,
E te interpreto,
E quase estremeço nesse deserto 
De não poder falar o que sinto.
Em silêncio te escolho,
Te amparo,
E quase suplico 
Por um pouco mais de sentimento.
Em silêncio rio das tuas dúvidas,
Imagino as tuas memórias,
E repreendo os teus medos,
Mas aqui, ainda em silêncio,
Eu lamento 
Por tudo que nós podíamos ter sido,
Se não fosse o silêncio 
Que tivesse nos corrompido.

Helena Vicente

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Atemporal

O sentimento é atemporal
E nada do que eu diga 
Poderá ficar aqui,
Ali 
Ou acolá 
Tudo que temos 
Se dissipa e se mistura nas partículas do espaço 
E tudo está em todo lugar 
Em todo momento 
E nada fica só 
Nem nada vem de encontro 
Porque tudo está em tudo 
Como se pudéssemos ver lá de cima 
Tudo tão pequeno e misturado 
Se chocando em todas as outras coisas 
Que imaginávamos que haviam se perdido 
No fim é uma ironia viver correndo atrás 
Imaginando uma ruptura num tempo que não há 
Num tempo determinado como se fosse matéria 
Palpável 
Pautável 
Nada além do invisível 
Uma ilusão criada pra manter concentrada 
A energia da natureza sobre todas as coisas 

Helena Vicente

quinta-feira, 25 de março de 2021

Março de 2020/2021 (...)

Estamos vivendo em um ciclo sem fim.
Desde que tudo começou, nunca tínhamos ficado assim.
É um luto corrosivo,
é um medo do amanhã,
é uma guerra sem previsão.
Estamos em guerra entre nós mesmos.
Onde uma atitude interfere na vida de todos.
Dentro de mim, agora, mora um vazio,
mora um medo de que os nossos melhores tempos tenham sido extintos.
Passado distante.
Sinto todos os dias como se tivesse perdendo tempo,
tempo em que eu poderia estar ao lado de quem amo,
demonstrando todo afeto que ainda é pouco,
pra aproveitar a companhia de quem está aqui.
A morte sempre me pareceu distante, opaca,
agora penso nela com muita nitidez.
E não há o que fazer, não há a quem recorrer,
só temos uma missão que é nos proteger,
para assim, proteger os outros.
Nunca dependemos tanto do conceito de sociedade
e infelizmente há quem pense
que não é necessário fazer nada,
e com isso acaba enlutando famílias que passaram esse último ano,
sem se ver, sem festejar (porque não há o que festejar),
acaba enlutando famílias e tirando o direito da despedida,
pois enquanto vida, sempre tivemos medo de perder sem poder nos despedir.
De chegar ao fim sem poder tocar a mão, o rosto,
sem poder ver quem tanto amamos se ir, para sempre,
pois o caixão deve ser fechado,
o que deixa o luto aberto por mais tempo.
Que não sejamos egoístas, e que nasça uma empatia transcendente,
capaz de colocar na cabeça dessa gente
que todos nós precisamos nos unir,
para exterminar o mal que nos extermina,
sem avisar, sem esperar.
Precisamos lutar juntos, e não um contra o outro.
É difícil lutar em uma guerra invisível,
e mais difícil ainda é permanecer nela sem aliados.
Nunca mais sairemos os mesmos desses anos infinitos, 
mas que tenhamos tempo pra recuperar o tempo perdido
do lado das vidas que tanto a gente preza.

Helena Vicente

quinta-feira, 18 de março de 2021

Retrocesso energético

Tem dias que dá vontade 
De viver na superficialidade 
De todo mundo
Como se nada fosse profundo,
Energético,
Intenso demais.
Da vontade de abandonar as teorias,
Viver só de passagem,
Como a grande maioria faz.
Parece ser mais simples 
Não colocar sentimento 
Em tudo que aparece pelo caminho.
Da vontade de escolher,
Dessa vez fazer menor, 
Não mergulhar em todo rio, 
Porque grandes rios também podem ser rasos.
Da vontade de ser rasa também,
De transparecer ilusões, mas não sentir,
De propagar sentimento,
Mas se manter alheio 
A tudo que achamos que precisamos, 
A tudo que imaginamos ser grande demais,
Talvez seja, de fato,
Mas perceber e absorver o todo
É cansativo, exige grande abertura de nós mesmos,
O que nos torna vulnerável a absorção de todas as energias 
Que existem vivendo alheias por aí,
Sem intenção, modificando,
Alterando o formato de tudo 
Que já estava pronto 
Criando experiências sem permissão,
Mas só, assim sendo, como uma sequência 
Do que é necessário seguir.
Mesmo tentando fugir, 
Sempre acabo entendendo esse processo 
E mesmo que eu tente o retrocesso 
Acabo me frustrando com o resultado.
Seguimos por aí.

Helena Vicente