sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Rotinas cheias de vácuo

Eu preciso de ti como os carros precisam de gasolina.
Eu não tenho saída,
A cada rua,
A cada esquina,
Eu não tenho saída.
Eu olho pro final
E não vejo nada.
Eu olho pra escuridão
Em busca de proteção,
Procurando pelos teus olhos castanhos
E eu não vejo nada
Além de muros.
Cercado de muros
Você se isolou,
E eu preciso ouvir
Da tua boca suave,
De hálito quente
Como você está.
É como uma fome
Que eu não sei controlar.
Eu já nem me lembro da última vez
Que fiquei completa,
Desde que você se foi
Passo as noites frias sem coberta.
Me escondo em outras peles
Pra não evidenciar o meu sofrer.
É inútil te querer.

Helena Vicente

segunda-feira, 24 de agosto de 2015


Religiões e desafetos

Me converti em ti
E agora já é tarde demais.
Eu coloco Radiohead pra tocar
E quase sofro por um segundo.
Eu quase sofro por te querer tanto.
Eu quase sofro reparando esses muros de concreto que você construiu.
Eu vou pixá-los com minha raiva aparente.
Eu quase sofro por me identificar tanto contigo.
Eu quase consigo não sofrer.
Helena Vicente

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O que quiseres

Se quiseres um abrigo,
Um peito pra chorar,
Sou eu,
Teu leito afetuoso.
Se quiseres um consolo,
Um remédio pra acalmar
Sou eu,
A médica dos errados.
Se quiseres distância,
Um pouco de paz
Sou eu, o iceberg perdido
No meio de tudo,
Desproporcional em minha forma,
Fria
Em excesso.
Entre o início e o fim
Eu sou a morte da esperança
E o descaso.
Eu sou a fome do sentir
E o excesso do saber.
Eu transbordo em meu ser
E danifico o sólido,
Mas se quiseres um abrigo
Se quiseres um equílibrio entre o amor e a miséria,
Meu bem,
Eu sou.

Helena Vicente