domingo, 22 de janeiro de 2017

IX

  Anelise era uma menina, digo uma menina pelo fato de estar no auge dos seus 16 e ser dona de uma ingenuidade gigantesca, carregada dentro do seu coração genuíno e expressada através dos seus olhos infantis. De segunda a sexta-feira frequentava a mesma parada de ônibus na esquina da sua casa, nada acontecia no local onde morava. Pegava o ônibus e se deslocava para a sua escola que ficava à 17km da sua casa. Numa quarta-feira qualquer, foi até a parada no mesmo horário e para o mesmo fim, lá aguardou sentada pelo seu ônibus amarelinho, pôs os fones no ouvido e relaxou, teria prova logo mais e escolhera não pensar sobre isso, pois pensar demais atrapalhava sua concentração e deixava-a ansiosa. Na escola tudo sempre igual, sentava-se no meio da classe, 4ª mesa a esquerda da janela, a professora de matemática já havia chegado e distribuído as provas, uma em cada classe, Anelise sentou-se, observou a prova, respirou fundo e começou com o que sabia. Terminou em 20 minutos e sentiu-se satisfeita, deu o seu melhor como sempre. No fim da aula a matéria era artes, da qual Anelise fazia muito gosto, e a professora solicitou a todos os alunos que levassem para a escola na aula seguinte alguns materiais para colagens. Anelise já se programou para comprar os materiais em questão. Durante a tarde, a mesma cena: Anelise na parada esperando o ônibus para ir à papelaria. Ao chegar dentro do ônibus, Anelise retira seu livro da mochila para ler enquanto seguia viagem, e que viagem... Levava cerca de 40 minutos para chegar ao centro da cidade, o que resultava em muitos capítulos concluídos de A Menina que Roubava Livros. Do seu lado, um rapaz sentou-se, Anelise conseguia ouvir a música que ele estava escutando através do fone de ouvido, mas não soube distinguir qual era, continuou a ler seu livro, agora um pouco menos concentrada. O rapaz tirou um dos fones e olhou para ela, Anelise continuou, um pouco envergonhada, até que o rapaz cumprimenta-a, Anelise gelou, respondeu cautelosamente, em seguida voltou para seu livro. Ele se apressou em perguntar se ela estava gostando do assunto tratado em seu livro, ela sorriu e disse que sim, na verdade poderia dizer que estava amando, mas preferiu apenas concordar, continuando o assunto ele falou que já havia lido e tinha adorado, em seguida avisou o motorista que queria descer, olhou para Anelise e disse "a gente se encontra por aí", ela assentiu. Fechou o livro após a saída do rapaz do qual não sabia o nome, estava extasiada pelo o ocorrido, não esperava conhecer alguém que gostasse tanto do mesmo livro que ela, acreditava que ele tinha pouco mais de 17 anos, um rapaz bonito, moreno e de grande sorriso, o que bastou para deixar Anelise com aquele sentimento de ''amor a primeira vista'' por bastante tempo. Anelise já havia se relacionado com um garoto antes, nada muito sério, durou poucas semanas, mas suficientes para fazê-la detestar o garoto com todas as forças, mas esse rapaz do ônibus era diferente, ela sentiu, percebeu que ele era inteligente e adorou sua simpatia. Chegou ao seu destino, comprou algumas revistas, tesoura e cola, mas o seu pensamento não era na aula de artes. 
Passou muito tempo, Anelise nunca mais vira o rapaz do ônibus, e de vez em quando até tentava encontrá-lo, pegando o mesmo transporte, no mesmo horário, mas isso foi deixando-a frustrada demais e ela resolveu esquecer, "que seja". Têm coisas que devemos aproveitar, guardar numa caixinha de lembrança e continuar, foi rápida a história que vivera, queria poder conhecê-lo melhor, mas conformou-se em guardar o sorriso do belo garoto nos seus pensamentos de menina.
Helena Vicente

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