sexta-feira, 6 de novembro de 2015

I

  Clarice chega em casa tão tarde da noite, retira suas roupas manchadas de vinho que alguém derrubou sobre ela sem querer, até fica triste por uns segundos, gostava da blusa azul que havia ganhado da sua tia Luísa pouco antes de seu aniversário em agosto. Coloca suas roupas velhas de dormir, vai escovar os dentes e repara seu rosto cansado no espelho sujo do banheiro, repara o quanto está envelhecendo rápido. Clarice sussurra confissões perigosas para as paredes, "ah se essas paredes falassem" pensa, "sorte que são mudas". Clarice não entende o que se passa, o que a faz chorar toda noite. Clarice tenta entender o rumo que sua vida tem tomado sem que ela faça qualquer esforço. Clarice é solitária, conclui ser melhor sozinha, acha que outra pessoa em sua vida seria um desastre, ela não sabe lidar com as emoções alheias. Clarice está cansada de pensar sobre isso também, mas é necessário. Ela só quer que seu coração pulse por função própria, não faz questão de ser movimentada por qualquer tipo de sentimento, apesar disso, precisa de um pouco de atenção, mas isso recebe de seu gato e ele é como ela, solitário. Os dois são parecidos, ele é a sua família e Clarice se sente feliz assim. Muitas pessoas só servem pra confundir. Clarice não quer se perder novamente e é na solidão que se sente segura.
Helena Vicente

2 comentários:

  1. Mais um, muito bom! E confesso que concordo com Clarice: "Muitas pessoas só servem pra confundir". Depois de compreende-la percebe-se: A solidão nem é esse monstro todo que as pessoas dizem. Parabéns, ótimo texto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá. Comentários assim são o que me faz ter cada vez mais vontade de escrever.
      Muito obrigada. Sua opinião sempre será bem-vinda.

      Excluir